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Alexandre Hohagen

Carnaval de papel

É incrível como, na era da tecnologia, a confusão no Carnaval de SP tenha sido gerada devido a um papel

No feriado prolongado desta semana, mais uma vez o Facebook foi a minha principal fonte de informação. Por meio do meu "feed" de notícias, fiquei sabendo onde estavam os meus amigos e o que estava acontecendo no mundo.

A tranquilidade foi interrompida quando na terça-feira começaram a pipocar posts esculhambando o Carnaval, a selvageria das escolas de samba, rogando a inevitável praga de que durante a Copa do Mundo o país sofrerá ainda mais.

Entendi logo depois de alguns minutos que se tratava de uma confusão promovida na apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo. Baderna, pancadaria e fogo em carro alegórico certamente não fazem parte dessa festa popular maravilhosa.

O Carnaval chegou ao Brasil em meados do século 17, influenciado pelas festas do gênero que aconteciam na Europa. Apesar de ter caído no gosto popular brasileiro há séculos e de ter incorporado tecnologias para a criação de carros alegóricos e até de fantasias, foi inacreditável saber que toda essa desordem foi gerada por causa de um papel. Realmente inacreditável.

Com toda a confusão, foi inevitável comparar duas imagens gravadas na minha cabeça. Uma, do fim de 2010, na qual remotas tribos indígenas da Amazônia votavam por meio da urna eletrônica, nas últimas eleições. A desta semana, relativa ao baderneiro que rasgou os papéis com as notas da apuração do Carnaval de São Paulo.

Apesar de antagônicos, esses dois momentos representam realidades tão atuais no nosso querido Brasil. De um lado, a festa mais popular e alegre de todo o mundo. Do outro, um país com algumas das tecnologias mais avançadas do planeta. É imensa a distância entre elas.

Nenhum outro lugar do mundo poderia competir com o nosso Carnaval e com o sistema bancário on-line, com a votação eletrônica e com o processo do Imposto de Renda todo baseado em tecnologia.

Imaginem que no Brasil, nas últimas eleições para presidente, 135 milhões de pessoas estiveram aptas a votar. Elas usaram uma das tecnologias mais invejadas no mundo, a da urna eletrônica, utilizada no país desde 1996 e que inspira iniciativas ainda incipientes de outros países.

E o nosso IR? Desde o ano passado, os contribuintes só podem entregar a declaração por disquete, "pen drive" ou pela internet -meio que representa a maioria das declarações. Em 2011, foram entregues 24,3 milhões de documentos. Para este ano são esperados 25 milhões.

Já o nosso sistema bancário é um dos mais modernos do mundo, e as transações chegam a cerca de 60 bilhões de operações por ano. Internet banking já representa mais de 20% do total, segundo dados da pesquisa mais recente da Febraban, divulgada no ano passado.

Um avanço que poderia ser seguido pelos nossos carnavalescos foi a extinção das declarações de bagagem acompanhada que tínhamos de preencher ao chegar de uma viagem ao exterior. Durante décadas, a Receita Federal acumulou toneladas daquelas papeletas de forma muito pouco eficaz.

Desde o começo deste ano, o preenchimento foi extinto para passageiros sem bens a declarar com valor acima de US$ 500 e isso fez com que se economizassem 30% do tempo dos passageiros no desembarque, segundo autoridades.

O avanço não deve parar por aí. Novas tecnologias vêm surgindo a ritmo de bateria campeã. Mas é preciso que haja empenho e vontade política para fazer com que os processos sejam menos burocráticos e baseados em pedaços de papel

-que podem se esvair com a mesma rapidez com que se foram as notas atribuídas às escolas de samba.

E sua empresa, está preparada para reduzir o volume de papel que usa nos processos diários -como simples blocos de anotações ou agendas- e se digitalizar mais?

Na era em que se fala em tablets e em livros digitais, o ganho de produtividade da digitalização pode ser mais do que bem-vindo.

É certo que o papel não vai acabar. Mas, com certeza, há melhores usos do que anotar notas de escolas de samba!

ALEXANDRE HOHAGEN, 44, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.

www.facebook.com/colunadohohagen

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros

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