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Benjamin Steinbruch

Maratona Brasil

A Maratona Brasil é uma oportunidade para combater algumas manias nacionais nada louváveis

Vai começar a Maratona Brasil, uma série de eventos internacionais que terão sede no país. Daqui a menos de dois meses, o Rio vai abrir o megaevento Rio+20, que deve atrair uma multidão de turistas ecológicos, autoridades e jornalistas de todo o mundo.

Está prevista a presença de inúmeros chefes de Estado no Rio e há 50 mil inscrições de representantes da sociedade civil. Tudo indica que será o maior evento da história da ONU, com mais participantes do que a famosa Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro de 2009.

A Rio+20 precisa ser mais que um evento ambiental. A discussão da expansão econômica mundial sustentável é a prioridade para os países emergentes, por considerarem que a adoção do novo conceito de economia verde deve permitir a continuidade de seu crescimento, da inclusão social, da criação de empregos e da melhoria geral das condições de vida de suas populações.

Essa será, pelo que se prevê, uma discussão central do evento do Rio. Como sempre, não se esperam grandes decisões formais. O Brasil pretende, pelo menos, conseguir a aprovação da criação de um órgão de desenvolvimento sustentável no âmbito da ONU -uma agência com orçamento próprio e influência semelhante à da FAO na área de alimentos. A ideia é transformar o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em uma agência ambiental global.

Seja como for, haverá avanços no debate desse tema, que vai moldar as relações mundiais nas próximas décadas. O Brasil ficará marcado por ter sido o palco de um acontecimento importante nesse debate, como já foi a Eco-92, 20 anos atrás.

Depois da Rio+20, virão mais três grandes eventos em sequência, todos esportivos: a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Ou seja, dentro de quatro anos, quando terminar a Maratona Brasil, o país terá tido uma exposição mundial nunca antes experimentada. Mais do que nunca, virtudes e defeitos estarão expostos aos olhos do mundo.

É preciso transformar essa exposição em fato positivo, que possa atrair turistas e negócios e construir uma boa reputação para o país. Segurança é item fundamental, porque qualquer incidente envolvendo estrangeiros pode provocar uma mancha indelével na imagem do país. Aliás, falta de segurança é o item que mais afasta turistas do Brasil.

É preciso não apenas construir e melhorar os sistemas de transportes, de comunicações e de hospedagem, mas também zelar para que não entrem em colapso durante os eventos. Tudo tem de ser planejado e checado com antecedência.

Para a Rio+20, os planos preveem a atuação de 10 mil homens do Exército, 2.000 da Marinha e 800 da Força Aérea, além de policiais federais e estaduais na vigilância de pontos estratégicos da cidade. Mas será necessário mobilizar sociedade civil e suas entidades, além de promover campanhas para orientar a conduta dos cidadãos.

A Maratona Brasil é uma oportunidade para combater algumas manias nacionais nada louváveis. Como a malandragem do jeitinho brasileiro, que acha bonito tirar vantagem em tudo, furar fila no banco, trafegar pelo acostamento ou jogar lixo na rua. O jeitinho nos leva a fazer gambiarras em vez de buscar soluções, a justificar pequenas transgressões, como subornar guardas, a avançar com o sinal fechado e, enfim, a exaltar o individualismo em detrimento do coletivo.

Talvez a experiência chinesa possa trazer ensinamentos. Antes da Olimpíada de Pequim, o governo fez uma campanha para que os chineses mudassem a mania de cuspir na rua, com bons resultados. Durante os jogos, Pequim chegou a multar os que eram surpreendidos cuspindo.

Mas o país não deve se acanhar em mostrar ao mundo o que tem de bom: a alegria do povo, a cordialidade, a música, a beleza da natureza, a exuberância da Amazônia e da agricultura moderna, a força da indústria, os programas de inclusão social, o sucesso geral da economia em meio à crise e, por que não, as qualidades esportivas.

O economista e Prêmio Nobel Paul Krugman disse na semana passada que o Brasil é "amado demais" lá fora. Não vamos contrariá-lo.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 14 dias, nesta coluna.
bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Alexandre Schwartsman

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