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Kátia Abreu

Novos problemas e velhos desafios

Os aumentos do salário mínimo não podem mais ser tão generosos sem elevar o risco de inflação

O RESULTADO do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre mostrou que a economia brasileira vive um momento preocupante. Crescemos apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior.

Por conta desse e de outros indicadores recentes, os economistas estão revendo para baixo suas projeções para o crescimento deste ano, que pode ser inferior aos 2,7% de 2011.

Nos altos e baixos que caracterizam a economia brasileira, estamos novamente em uma fase de baixa. Não estamos à beira da recessão. Mas também não é um simples tropeço.

Temos que reconhecer que a situação econômica do mundo continua frágil, agravada mais uma vez pelo receio de uma piora da crise na zona do euro, pela lenta recuperação da economia americana e pela queda do ritmo de crescimento da China. Mas as dificuldades no crescimento brasileiro decorrem também de problemas que são exclusivamente nossos.

Estamos sofrendo as consequências do esgotamento das causas que produziram o ciclo de crescimento do governo anterior, que se sustentou em três fatores.

O primeiro foi a melhora da relação entre os preços dos produtos que exportamos e dos que importamos, em consequência da elevação dos preços das commodities, tanto agrícolas como metálicas, causada em grande parte pelo crescimento chinês nos últimos sete anos.

Assim, houve aumento da renda desses setores exportadores. A alta dos preços das commodities compensou a valorização do real, que contribuiu para aliviar as pressões inflacionárias.

A inflação baixa permitiu a recuperação mais rápida do valor de compra do salário mínimo, que, combinada às políticas de transferência de renda do governo, ampliou a capacidade de consumo da maioria dos brasileiros.

Essa segunda base do tripé foi potencializada por uma terceira, a política de ampliação do crédito, somada à queda dos juros e certo ativismo creditício determinado pelo governo aos bancos estatais.

Contudo, as evidências demonstram que esse modelo está se exaurindo.

Agora, os preços das commodities estão estáveis, após uma expressiva queda. E podem voltar a cair caso o freio chinês seja mais brusco do que se espera.

Os aumentos do salário mínimo não podem mais ser tão generosos sem elevar o risco de inflação. E aumentar o crédito já não funciona porque a renda da população está muito comprometida com o pagamento de dívidas acumuladas.

Insistir na longevidade desse modelo, além de pouco eficaz, vai gerar distorções difíceis de corrigir no futuro.

Precisamos trocar o disco. Ao invés de insistir em puxar a economia pelo lado da demanda, temos que empurrá-la ladeira acima melhorando as condições da oferta.

Isso implica enfrentar nossos velhos e conhecidos desafios: simplificar e reduzir a carga tributária, de maneira generalizada, e não apenas para alguns setores considerados estratégicos; melhorar a infraestrutura por intermédio de parcerias com o setor privado; aumentar a poupança e o investimento público; flexibilizar o mercado de trabalho, privilegiando o entendimento direto entre empresários e trabalhadores.

Se continuarmos apenas reagindo às dificuldades da conjuntura, não criaremos as condições necessárias ao novo ciclo duradouro e sustentável de crescimento.

Tudo leva a crer que estamos nos aproximando de um ponto de inflexão decisivo.

O país precisa crescer, pois a renda média dos brasileiros ainda é claramente insatisfatória e a sociedade acostumou-se com a ideia do desenvolvimento.

Uma reversão dessas expectativas pode afetar a própria estabilidade social.

A presidente Dilma Rousseff já vem adotando medidas voltadas a enfrentar esses velhos desafios. Mostra ter consciência de nossos problemas mais estruturais. Contudo a piora da economia internacional nos obrigará a ser mais ousados e mais ágeis.

A classe política e o Congresso precisam apoiar a presidente nessa urgência de reformar o Brasil, colocando-se acima das disputas entre governo e oposição.

KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados, a cada 14 dias, neste espaço.

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