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Análise Preços

Alimento 'in natura' pressiona inflação no primeiro semestre

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os efeitos positivos da desaceleração mundial sobre os preços das principias commodities agrícolas e sobre a inflação brasileira foram analisados aqui em 16 de junho.

Um exemplo significativo é a queda de 7,35% nos preços das carnes bovinas nos seis primeiros meses de 2012, de acordo com as informações do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas.

Entretanto, em que pese o efeito positivo de alguns itens do grupo alimentação, a situação é bem diferente com relação aos produtos "in natura".

Enquanto o IPC-S acumulou alta de 2,83% entre janeiro e junho, o grupo frutas subiu 3,04% e o de hortaliças e legumes aumentou 15,87% no mesmo período.

Alguns destaques foram feijão (49,54%), batata inglesa (36,87%), cebola (42,35%), alface (21,20%), mamão papaya (19,55%), manga (42,58%), cenoura (33,64%), alho (31,06%), abacaxi (19,91%) e arroz (5,39%).

Entre os itens que tiveram quedas no primeiro semestre, os exemplos são menos numerosos: tomate (6,47%), maracujá (14,33%), pera (7,08%) e maçã (1,58%).

Levando-se em conta o peso de cada um desses itens sobre o orçamento do consumidor, o impacto das quedas combinadas sobre o IPC-S foi de apenas 0,03%.

Por outro lado, fazendo o mesmo tipo de conta para os itens acima que mostraram aumentos de preços, temos impacto significativo de 0,41% sobre o IPC-S.

O padrão de volatilidade muito elevada dos preços dos itens da alimentação "in natura" dificulta uma análise de prazo maior que o de algumas semanas.

Vamos tomar como exemplo o tomate, cuja evolução acumulada nos últimos cinco anos foi a seguinte: queda de 12,23% em 2007, alta de 110,50% em 2008, quedas de 21,36% em 2009 e de 16,6% em 2010, e alta de 56,67% em 2011.

No final, a alta acumulada entre 2007 e 2011 chega a 90,17%, para os quais, portanto, a queda de 6,47% verificada até aqui em 2012 pouco contribui para a sensação do consumidor de pagar quase o dobro por esse produto em um período em que a inflação acumulada foi de pouco mais de 30%.

Considerando-se o mesmo período entre 2007 e 2011, temos vários exemplos de variações de preços muito expressivas (bem acima do índice médio): batata inglesa (41,54%), alface (66,42%), limão (130,08%), cebola (87,87%), abacaxi (53,29%), feijão (67,16%), melancia (86,67%), manga (59%), maracujá (90,88%), vagem (89,21%), repolho (63,47%) e brócolis (44,75%), entre outros.

Esses são preços de produtos cuja dinâmica de mercado não é tão afetada por fundamentos macroeconômicos, como política monetária, taxa de câmbio etc., quanto pela combinação do aumento da renda disponível da população em geral com os ciclos causados pelas decisões de produção que respondem aos incentivos de preços.

A tendência clara dos últimos cinco anos mostra que a incorporação de um grande número de consumidores ao mercado gerou aumento de demanda que não foi até agora acompanhado de forma suficiente pela expansão da oferta.

PAULO PICCHETTI, doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

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