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Cifras & letras crítica empresa Livro esmiúça história do império criado pela Exxon Jornalista destaca a questão moral que permeia os acordos com governos DENISE LUNADO RIO Em seu mais recente livro, "Private Empire" (Império Privado, em tradução livre), o jornalista da revista americana "The New Yorker" Steve Coll, premiado com o Pulitzer em 1990, investiga uma das mais poderosas -e também polêmicas- empresas de petróleo da história. Baseado em uma investigação que inclui 450 entrevistas feitas por ele nos EUA e no exterior, o autor escolheu como protagonista -ou antagonista, a depender da análise- o presidente-executivo da Exxon entre 1993 e 2005, Lee Raymond. O livro começa em março de 1989, época do desastre épico do Exxon Valdez no golfo do Alasca, que, após uma colisão violenta, estima-se que tenha derramado cerca de 240 mil barris de petróleo, causando danos irreparáveis à vida marinha da região. Coll não se atém aos detalhes técnicos e investiga os funcionários da empresa, sua vida pessoal e a posição da Exxon em relação a eles. O grande bode expiatório desse caso foi Joseph Hazeelwood, o capitão de tanque de petróleo, com problemas de alcoolismo e que, na ocasião, teria abandonado seu posto para tratar de burocracia. A possível intoxicação do funcionário e seu histórico são apresentados por Coll como uma pequena fração da série de erros que ocasionaram o acidente. O evento e suas repercussões remodelariam a companhia para a próxima década, que se tornaria ainda mais rígida e técnica. O presidente-executivo foi o responsável pela implementação das regras mais rígidas de conduta, que visavam proteger a empresa tanto do erro humano quanto da má publicidade, acreditando que o mínimo de informação divulgada é o melhor. Naquele mesmo ano -marcado pelo fim da guerra e pela abertura de novos mercados ao redor do mundo-, a América se afirmava como poder militar, e a Exxon, como um império em expansão. E, segundo o autor, eles se sobrepunham: desde a fundação da Exxon, derivada do monopólio de John D. Rockeffeler, a Standard Oil Company, em 1911, o modelo corporativo adotado era de um Estado corporativo dentro da America. Ele esmiúça a empresa nas décadas de 1990 e 2000, mas sempre com referências a períodos anteriores considerados essenciais para a compreensão desse modelo. Entre os pontos mais polêmicos está o debate sobre o aquecimento global, quando a Exxon assumiu posição de derrubar sanções em favor do crescimento econômico. Raymond chegou a declarar, neste ano, que não acreditava que a questão fosse real e muito menos causada pela ação humana e, portanto, a redução da emissão de gases seria inútil. Só em 2006 a Exxon reviu essa posição. PAÍSES POBRES O livro vale também para conhecer as polêmicas atividades da Exxon no exterior, em países pobres e politicamente conturbados, como Indonésia, Chade, Guiné Equatorial, Venezuela e a Rússia de Vladimir Putin. Nesses casos, o autor destaca a questão moral que permeia acordos com governos muitas vezes antidemocráticos, envolvidos na violação de direitos e corrupção. Assim, o livro traça uma teia de relações da Exxon. Domésticas e exteriores, com a imprensa e com o público, com os debates científicos, com o modelo corporativo e os funcionários. Sempre destacando as contradições e influências no mundo político de uma empresa que se afirma enquanto poder privado global, com uma política de segredo e de segurança apenas comparável às maiores agências de inteligência do mundo.
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