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Análise - Petróleo

País é muito atraente para a indústria petroleira, mas incertezas do governo e risco regulatório não ajudam

ADRIANO PIRES

ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 2007, a descoberta das imensas reservas de petróleo na camada brasileira do pré-sal, quando os preços de petróleo estavam em um ciclo de crescimento, estimulou o governo a anunciar um novo modelo para o setor. Foi aprovado um modelo de partilha para as novas áreas do pré-sal a serem licitadas.
Mas a dificuldade em definir detalhes, como o custo do óleo, o lucro do óleo, a remuneração do investimento e a distribuição da renda petrolífera entre os Estados brasileiros, tem impedido a realização de leilões no pré-sal e, pior, criou um argumento para o governo também não realizar licitações sob o antigo regime de concessão. Isso elevou a percepção de risco regulatório, agravada pelas exigências de conteúdo local e a crescente interferência governamental na Petrobras.
Sem novas rodadas de licitação, as empresas estão impossibilitadas de expandir operações em novas áreas e podem apenas adquirir participação em blocos licitados pertencentes a outras empresas. Esse cenário torna os já atraentes blocos "offshore" brasileiros em ativos mais valorizados ainda.
Adicionalmente, empresas associadas à Petrobras estão enfrentando a lentidão da expansão da produção e um cronograma de exploração que não foca investimentos em seus blocos. Junte-se a isso a necessidade de capitalização das empresas privadas, parceiras da Petrobras, devido a suas situações internas e/ou a condições adversas da economia internacional.
O resultado dessa combinação de questões é um número crescente de operações de desinvestimento por parte das tradicionais empresas petrolíferas. Recentes exemplos incluem as vendas de participação da Repsol e da Galp para a estatal chinesa Sinopec, a venda de participação da Shell para as empresas brasileiras Queiroz Galvão e Barra Energia, bem como da Chevron para a Barra Energia, além do anúncio da Anadarko de que vai abandonar suas operações no Brasil.
As estatais chinesas são as que mais se beneficiam desse cenário e estão expandindo sua participação internacional em regiões com reservas potenciais atraentes para suprir a crescente demanda por petróleo da China, especialmente a Sinopec no Brasil.
Essas empresas não estão interessadas na operação dos blocos, e sim na participação nos consórcios, assegurando contratos de suprimento de petróleo de longo prazo.
O Brasil permanece como país muito atraente para a indústria do petróleo, com alto potencial de exploração e estabilidade econômica. Mas o governo não está ajudando, ao aumentar a incerteza e o risco regulatório no setor de petróleo e gás no Brasil.

ADRIANO PIRES é diretor do Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

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