São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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ANÁLISE ELETRICIDADE

Não há uma fonte de energia ideal; todas têm prós e contras

WALTER DE VITTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao longo do último ano, ganhou corpo o debate em torno da ampliação da participação da energia térmica na expansão da oferta de eletricidade no país.
A maior agilidade no processo de licenciamento ambiental de termelétricas criou uma situação esquizofrênica no setor elétrico nacional: as regras ambientais acabam por privilegiar uma fonte mais poluente.
Como reflexo, desde 2005, 46% da energia contratada vem de fontes termelétricas não renováveis.
No caso das hidrelétricas, a austeridade das regras ambientais não implica somente atrasos nas obras, como também reduz sua capacidade de geração, já que as usinas, visando atender as exigências, não contam com reservatórios capazes de garantir a oferta de energia nos períodos secos do ano.
Essa situação paradoxal expõe as fragilidades dos critérios de seleção ambiental dos projetos de geração de energia no Brasil.
Se, por um lado, a expansão da produção e a inclusão de parcelas crescentes da população ao mercado de consumo sinalizam demanda crescente por energia elétrica, por outro, é preciso ampliar o debate quanto à melhor forma de atender a esse consumo.

AMPLOS RECURSOS
O Brasil tem uma ampla gama de recursos energéticos, o que possibilita aos planejadores do setor vislumbrar uma série de configurações para atender às crescentes necessidades do país.
Não há uma fonte ideal, que alie baixo custo à adequação ambiental, previsibilidade e flexibilidade. Todas possuem vantagens e desvantagens.
As hidrelétricas podem gerar energia em grande escala e a baixo custo variável, já que não requerem combustível, mas exigem investimentos pesados e causam impactos socioambientais significativos nos locais onde são construídas.
As usinas eólicas causam baixo impacto ambiental, mas são relativamente caras, pouco previsíveis e flexíveis, dependentes do regime de ventos.
As térmicas a gás e a óleo, por sua vez, são previsíveis, flexíveis e não requerem grandes investimentos, mas são poluentes e o custo do combustível as torna mais caras.
As térmicas a biomassa também são relativamente caras, mas trazem menores impactos ambientais.
As usinas nucleares, por fim, requerem grandes investimentos -o que as torna pouco flexíveis-, mas não são grandes emissoras de gases estufa, apesar dos riscos associados à radiação.
Nesse sentido, a escolha das fontes deve se pautar por uma análise criteriosa do custo-benefício -ambiental, inclusive- das diferentes opções, bem como dos riscos da adoção de determinada fonte e do resultado de sua composição com as demais.
Uma opção interessante seria incorporar ao sistema de licenciamento e avaliação dos impactos ambientais o resultado da interação entre a usina proposta e as demais fontes.


WALTER DE VITTO é analista do setor de energia da Tendências Consultoria Integrada.


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