São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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OPINIÃO

Política da Rússia é injusta com a carne brasileira, mas não chega a ser surpresa


O GOVERNO PRECISA REAGIR, NÃO DEIXANDO QUALQUER DÚVIDA SOBRE A SANIDADE DAS CARNES DO BRASIL


PEDRO DE CAMARGO NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é a primeira vez que o Brasil é surpreendido por restrições ao comércio de carnes por parte da autoridade sanitária da Rússia.
A Rússia tem um histórico de medidas intempestivas não só contra o Brasil mas também contra todos os outros exportadores.
É um grande mercado importador e paga bons preços. Exige atenção especial, mesmo que tenha características que ocasionalmente causem esse tipo de surpresa.
O Brasil tem condições de saúde animal no campo e de saúde pública em seus frigoríficos comparáveis a ou melhores do que as de qualquer país do mundo.
As críticas que têm sido divulgadas são injustas. Não quer dizer, porém, que não existam falhas burocráticas por parte do Ministério da Agricultura.
As exportações de carne cresceram muito nos últimos anos e falta pessoal técnico para atender à crescente demanda de questionamentos de importadores. Respostas e exames laboratoriais, alguns até descabidos, atrasam.
O governo precisa, porém, reagir, não deixando nenhuma dúvida sobre a sanidade das carnes do Brasil.
Vínhamos acompanhando uma crescente deterioração no relacionamento entre a autoridade sanitária russa e o Ministério da Agricultura.
Missão veterinária russa em abril resultou em correspondência ao Brasil contendo críticas, algumas justificadas, outras descabidas, porém nenhuma com consistência técnica que justificasse o rigor da medida.
Em paralelo à visita do vice-presidente Michel Temer a Moscou, em maio, as autoridades do Ministério da Agricultura realizaram reunião em que novamente escutaram as recorrentes críticas. No entanto, não conseguiram antecipar respostas aos questionamentos, mesmo que parciais.
Concluiu-se a reunião com o acordo de retorno breve a Moscou, ocasião em que o governo brasileiro pretendia atender a todos os questionamentos. Viu-se, agora, que a Rússia não esperou.
A especulação de que a medida pode ser resultado de pressão sobre a negociação no processo da acessão da Rússia à OMC (Organização Mundial de Comércio) não deve prosperar.
O Brasil sempre apoiou a entrada da Rússia na OMC.
Em 2005, o presidente Lula assinou acordo nesse sentido. Não tem sido o Brasil o responsável pelo atraso.
Para o caso específico do acesso ao mercado da Rússia de carne suína, um dos poucos pontos em que ainda existe divergência, a posição, hoje, é a mesma de 2005, aceita pela Rússia na época.
Não queremos ser discriminados e não queremos que as cotas de carne suína sejam direcionadas para os EUA e para a União Europeia, ficando o Brasil com a sobra.
É preciso reconquistar a confiança da Rússia. Precisamos também acelerar o andamento de processos de abertura de mercados, reduzindo a dependência que ainda temos desse cliente.

PEDRO DE CAMARGO NETO é presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína)


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