São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Medidas certas na hora errada trazem mais incertezas sobre combate à inflação


INCERTEZAS EM RELAÇÃO AO COMPROMISSO COM O COMBATE À INFLAÇÃO COSTUMAM TER UM EFEITO PERVERSO: TENDEM A AUMENTAR AS EXPECTATIVAS DE AUMENTO DE PREÇOS

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

As medidas certas na hora errada. Com o perdão do clichê, essa é uma boa forma de resumir o pacote anunciado ontem pelo Banco Central.
As medidas são adequadas porque representam um passo na direção de diminuir os riscos de que o Brasil viva crises como a que eclodiu nos países desenvolvidos com repercussões custosas para suas populações.
Não que esse risco seja iminente no Brasil. Mas poderia aumentar se fosse mantido o ritmo atual de expansão do crédito e de concentração da exposição dos bancos a poucas modalidades de empréstimos como financiamento de veículos.
Ao colocar um freio no crescimento do crédito, o BC tenta controlar o perigo de endividamento excessivo.
Como mostra a história recente de alguns países ricos, endividamento excessivo eventualmente se traduz em aumento da inadimplência. Se os bancos não estão preparados -com nível de proteção adequada-, podem ter problemas de solvência.
O pacote do BC, aliás, também cria incentivos para aumentar a solidez dos bancos. Uma das medidas visa a incentivar o acesso das instituições financeiras a fontes de financiamentos de longo prazo, que são mais estáveis.
O pacote veio na hora errada, no entanto, porque confundiu os agentes econômicos e investidores.
Foi apresentado como instrumento para conter a recente disparada da inflação. Certamente contribuirá para esse fim em alguma medida. A questão é: em que medida?
Como é difícil mensurar isso, prevalece a percepção de que o BC não conseguirá escapar da modalidade clássica de aperto monetário -aumento de juros- se quiser controlar as pressões inflacionárias.
O problema é que, em meio a uma transição para um novo governo e desconfianças sobre o compromisso da próxima administração com o combate à inflação, aumentaram as dúvidas.
Será que o BC, que se reúne na semana que vem para decidir o que fazer com a taxa de juros básica (a Selic), irá aumentá-la nos próximos meses na magnitude necessária para controlar os aumentos de preços?
Ou será que o pacote de ontem sinaliza uma menor disposição do BC de usar os juros como ferramenta de combate à inflação?
Incertezas em relação ao compromisso com o combate à inflação costumam ter um efeito perverso: tendem a aumentar as expectativas de aumento de preços.
Expectativas mais altas podem levar a aumentos "preventivos" de preços.
Para evitar o ruído criado ontem, o BC talvez devesse ter deixado o anúncio do bem-vindo pacote para depois do início do próximo ciclo de alta de juros.


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