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ANÁLISE COMMODITIES
Baixa pode ser "um tempo" para a economia mundial se refazer
NO CASO DOS ALIMENTOS, HOUVE REDUÇÃO NOS PREÇOS REAIS MUNDIAIS (E TAMBÉM NO BRASIL) ENTRE
1975 E 2008
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Commodity prices are
back", exclamou Jeffrey
Frankel, um dos grandes estudiosos dos mercados de
commodities, que, em 2006,
voltou a estudá-los depois de
20 anos.
Após terem sido foco de intensa discussão dos anos
1970 até meados dos 1980, os
preços das commodities, em
profunda queda, deixaram
de preocupar do ponto de
vista do controle da inflação.
Além disso, desde os anos
1970, por influência de estudiosos como Otto Ekstein e
Robert Gordon, os principais
bancos centrais passaram a
excluir os preços das commodities na medição da inflação, pois suas oscilações seriam essencialmente temporárias e reversíveis.
Agora o "problema" retornava: entre 2002 e 2008, os
preços dos alimentos, por
exemplo, cresceram 130%.
Os preços do petróleo e dos
minérios subiram 280%.
Era esse o cenário, com inflação mundial galopante,
quando a recessão causada
pela crise financeira irrompeu nos EUA e se espalhou
pelo mundo afora.
Na Europa ainda paira a
ameaça de um segundo mergulho recessivo. Enquanto
perduram a crise e seu rescaldo, os preços de muitas commodities caíram parcialmente, possivelmente "dando
um tempo" enquanto a economia mundial se refaz.
Não devemos perder a
perspectiva histórica. A preocupação renovada com as
commodities mascara a espetacular queda de preços a
partir de 1975.
No caso dos alimentos,
houve uma redução nos preços reais (em dólares) mundiais (e também no Brasil)
em torno de 60% a 70% entre
1975 e 2008, explicada pela
fantástica elevação de produtividade.
Algo parecido se deu com
o preço do petróleo. A subida
até 2008 ainda deixou os preços dos alimentos 40% abaixo dos níveis de 1975.
Desde o pico de 2008, esses preços já recuaram 25% e
o do petróleo, 20%. Importa,
ainda, perguntar: por que os
preços desses produtos tinham voltado a subir?
Com a globalização acelerada na década de 1990, os
mercados de commodities ligaram-se aos mercados financeiros, e, elas, vistas como ativos, concorrem com títulos públicos e privados, outras commodities, como petróleo, metais etc.
Diante da extrema aceleração do crescimento, puxado
pela China, invejada por todos, e da duplicação da liquidez internacional de 2002 a
2008, uma generalizada explosão de preços desses ativos não seria de espantar.
O que realmente surpreendeu foi o setor financeiro estar tão despreparado, com
uma regulação tão inadequada, levando a economia
mundial a turbulências tão
perigosas.
Aprendidas as lições, ajustadas as condutas e pensadas as feridas, restará o desafio de atender às necessidades de matérias-primas e
energia de um mundo que
pretende continuar crescendo rápido, seja para reduzir a
pobreza -ainda muito grande-, seja para atingir níveis
de vida mais confortáveis.
Então saberemos se os preços de commodities realmente tendem a apresentar oscilações essencialmente temporárias e reversíveis.
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
E-mail: cepea@esalq.usp.br
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