São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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ANÁLISE COMMODITIES

Baixa pode ser "um tempo" para a economia mundial se refazer

NO CASO DOS ALIMENTOS, HOUVE REDUÇÃO NOS PREÇOS REAIS MUNDIAIS (E TAMBÉM NO BRASIL) ENTRE 1975 E 2008

GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Commodity prices are back", exclamou Jeffrey Frankel, um dos grandes estudiosos dos mercados de commodities, que, em 2006, voltou a estudá-los depois de 20 anos.
Após terem sido foco de intensa discussão dos anos 1970 até meados dos 1980, os preços das commodities, em profunda queda, deixaram de preocupar do ponto de vista do controle da inflação.
Além disso, desde os anos 1970, por influência de estudiosos como Otto Ekstein e Robert Gordon, os principais bancos centrais passaram a excluir os preços das commodities na medição da inflação, pois suas oscilações seriam essencialmente temporárias e reversíveis.
Agora o "problema" retornava: entre 2002 e 2008, os preços dos alimentos, por exemplo, cresceram 130%.
Os preços do petróleo e dos minérios subiram 280%.
Era esse o cenário, com inflação mundial galopante, quando a recessão causada pela crise financeira irrompeu nos EUA e se espalhou pelo mundo afora.
Na Europa ainda paira a ameaça de um segundo mergulho recessivo. Enquanto perduram a crise e seu rescaldo, os preços de muitas commodities caíram parcialmente, possivelmente "dando um tempo" enquanto a economia mundial se refaz.
Não devemos perder a perspectiva histórica. A preocupação renovada com as commodities mascara a espetacular queda de preços a partir de 1975.
No caso dos alimentos, houve uma redução nos preços reais (em dólares) mundiais (e também no Brasil) em torno de 60% a 70% entre 1975 e 2008, explicada pela fantástica elevação de produtividade.
Algo parecido se deu com o preço do petróleo. A subida até 2008 ainda deixou os preços dos alimentos 40% abaixo dos níveis de 1975.
Desde o pico de 2008, esses preços já recuaram 25% e o do petróleo, 20%. Importa, ainda, perguntar: por que os preços desses produtos tinham voltado a subir?
Com a globalização acelerada na década de 1990, os mercados de commodities ligaram-se aos mercados financeiros, e, elas, vistas como ativos, concorrem com títulos públicos e privados, outras commodities, como petróleo, metais etc.
Diante da extrema aceleração do crescimento, puxado pela China, invejada por todos, e da duplicação da liquidez internacional de 2002 a 2008, uma generalizada explosão de preços desses ativos não seria de espantar.
O que realmente surpreendeu foi o setor financeiro estar tão despreparado, com uma regulação tão inadequada, levando a economia mundial a turbulências tão perigosas.
Aprendidas as lições, ajustadas as condutas e pensadas as feridas, restará o desafio de atender às necessidades de matérias-primas e energia de um mundo que pretende continuar crescendo rápido, seja para reduzir a pobreza -ainda muito grande-, seja para atingir níveis de vida mais confortáveis.
Então saberemos se os preços de commodities realmente tendem a apresentar oscilações essencialmente temporárias e reversíveis.


GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

E-mail: cepea@esalq.usp.br


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