São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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ROBERTO RODRIGUES

Tendências da alimentação


Pesquisa mostra que 80% aceitariam pagar mais por alimentos produzidos com práticas sustentáveis


O DEPARTAMENTO de Agronegócio da Fiesp realizou uma extensa pesquisa nacional, com o Ibope, para avaliar o perfil do consumo de alimentos no Brasil, com o objetivo de comparar esse tema com o que acontece internacionalmente. E, como consequência, informar as pequenas empresas do setor sobre as necessárias inovações tecnológicas para melhor competir.
O foco era, portanto, o dos alimentos industrializados. Mas é claro que o rebate é direto a produção de matérias-primas, isto é, a atividade rural, sobretudo quanto à qualidade do produto. A pesquisa, muito abrangente, encontrou uma boa aderência entre as tendências nacionais e exteriores, tendo caracterizado quatro linhas principais: 1) conveniência e praticidade: "Com a vida que levo, não tenho tempo de cozinhar em casa".
2) confiabilidade e qualidade: "Para mim, a marca é o mais importante na hora de escolher o alimento".
3) sensorialidade e prazer: "Entre o alimento que é mais gostoso e outro que é mais saudável, escolho o mais gostoso".
4) saudabilidade, sustentabilidade, bem-estar e ética: "Dou preferência ao alimento mais saudável e àquele cujo produtor protege o ambiente e tenha projetos sociais".
O grupo mais numeroso (com 34% dos entrevistados) é o que se preocupa com a praticidade: são os consumidores que trabalham o tempo todo e mal conseguem cuidar da casa, da família e da vida e preferem comprar congelados, semiprontos, priorizam saber a variedade, confiam na qualidade dos industrializados.
O segundo grupo, que prioriza confiabilidade e qualidade (com 23%), é composto pelos consumidores fiéis às marcas, tipos de produtos, lojas e fábricas e que até estão dispostos a pagar mais por produtos que achem de melhor qualidade.
O terceiro grupo, com 23% de preferência, também preocupado com sensorialidade e prazer, acha importante que o alimento seja gostoso e atraente: é de gente mais impulsiva na hora da compra, defende o prazer sem culpa.
O último grupo, com 21%, com forte potencial de crescimento, como no mundo todo, está atento à qualidade de vida, preocupados com certificação, selos de qualidade e questões ambientais e sociais.
A riqueza dos dados da pesquisa impede uma análise abrangente no espaço de um único artigo. Mas há algumas informações muito interessantes quando se trata de tendências. Uma delas é o grau de informação sobre a importância dos alimentos para a vida, de onde vem essa informação: 40% das respostas vêm da televisão, 20%, de médicos/nutricionistas, e 19%, da internet. Jornais têm 14%, e revistas, 12%.
Portanto, o marketing tem papel absolutamente fundamental na formação da tendência. Ela não é apenas determinada pela individualidade do consumidor e de sua história pessoal: propaganda é a palavra-chave. Aliás, 22% dos entrevistados nem sequer se consideram informados sobre a importância dos alimentos para a vida.
Portanto, a questão da ética na informação também ganha grande importância. Quando está sinalizada uma tendência, por exemplo, de valorizar alimentos funcionais (que possuem ingredientes que ajudam à saúde), fica muito clara a necessidade de uma propaganda que mostre a composição de cada produto e para que ele serve, como foi produzido, entre outros dados.
Isso dará aos produtores uma obrigação adicional, mas, em compensação, causará um diferencial positivo que deve ser remunerado.
Afinal, consultados sobre sua disposição de pagar mais por alimentos produzidos com práticas sustentáveis, 80% disseram que sim ou talvez, dependendo do produto. Está claro que o consumidor brasileiro já sabe o que quer.


ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp-Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO: Fan Gang


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