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ANÁLISE
Lula não foi generoso com o uso do FGTS na Petrobras
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
O governo Lula não foi generoso com o trabalhador na
compra de ações da Petrobras com o dinheiro preso no
FGTS, segundo analistas.
Ao limitar o aporte a 30%
do saldo e só permitir a adesão de quem comprou os papéis da estatal em 2000, o governo impede uma sangria
potencial nos recursos do
fundo e ainda eleva sua participação na estatal.
O FGTS rende 3% ao ano
mais a TR, perdendo sempre
para a inflação oficial, cuja
meta é de 4,5%. Muitos trabalhadores só não tiveram
essa poupança corroída porque tinham ações -desde
2000, os fundos FGTS-Petrobras renderam 850%.
Dos 312 mil trabalhadores
que compraram ações em
2000, só 89 mil ainda teriam
direito a aderir agora, segundo a CVM. O teto de 30% restringe a capacidade dos cotistas do FGTS de impedirem
a sua diluição na estatal.
Os fundos FGTS têm, hoje,
2% da Petrobras, cerca de R$
5,45 bilhões; se todos decidissem exercer sua preferência teriam direito a levar algo
como R$ 1,85 bilhão do FGTS.
Os bancos, que defendiam
abertura irrestrita da aplicação a todos os trabalhadores,
acreditam que nem R$ 1 bilhão captado pela Petrobras
virá do FGTS.
Com ativos de R$ 237 bilhões no final de 2009, o
FGTS se tornou o maior financiador de saneamento
básico e habitação popular.
Mas líquido mesmo o fundo
só tinha R$ 11,9 bilhões em
dezembro; o restante estava
comprometido em empréstimos ao setor público de longo (R$ 79,6 bilhões) e curto
(R$ 14,148 bilhões) prazos,
entre outras aplicações.
Em agosto de 2000, quando o governo vendeu as
ações excedentes ao controle
na Petrobras, a situação foi
bem diferente. O então governo FHC permitiu que o
trabalhador colocasse até
50% do saldo do FGTS na Petrobras e ainda deu desconto
de 20% no preço das ações.
O desconto valeu até para
o investidor pessoa física que
colocou recursos próprios.
E, mesmo assim, as ações
quase encalharam. Dos R$
3,4 bilhões reservados, os cotistas do FGTS só colocaram
R$ 1,6 bilhão na Petrobras.
No primeiro dia de negócios, os papéis saltaram
14,97% na Bolsa -com o desconto de 20%, o ganho apurado já era de 49,47%.
O sucesso foi tão grande
que, dois anos depois, o governo FHC vendeu as ações
que ainda tinha na Vale, só
que com desconto de 5%.
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