São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Lula não foi generoso com o uso do FGTS na Petrobras

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O governo Lula não foi generoso com o trabalhador na compra de ações da Petrobras com o dinheiro preso no FGTS, segundo analistas.
Ao limitar o aporte a 30% do saldo e só permitir a adesão de quem comprou os papéis da estatal em 2000, o governo impede uma sangria potencial nos recursos do fundo e ainda eleva sua participação na estatal.
O FGTS rende 3% ao ano mais a TR, perdendo sempre para a inflação oficial, cuja meta é de 4,5%. Muitos trabalhadores só não tiveram essa poupança corroída porque tinham ações -desde 2000, os fundos FGTS-Petrobras renderam 850%.
Dos 312 mil trabalhadores que compraram ações em 2000, só 89 mil ainda teriam direito a aderir agora, segundo a CVM. O teto de 30% restringe a capacidade dos cotistas do FGTS de impedirem a sua diluição na estatal.
Os fundos FGTS têm, hoje, 2% da Petrobras, cerca de R$ 5,45 bilhões; se todos decidissem exercer sua preferência teriam direito a levar algo como R$ 1,85 bilhão do FGTS.
Os bancos, que defendiam abertura irrestrita da aplicação a todos os trabalhadores, acreditam que nem R$ 1 bilhão captado pela Petrobras virá do FGTS.
Com ativos de R$ 237 bilhões no final de 2009, o FGTS se tornou o maior financiador de saneamento básico e habitação popular. Mas líquido mesmo o fundo só tinha R$ 11,9 bilhões em dezembro; o restante estava comprometido em empréstimos ao setor público de longo (R$ 79,6 bilhões) e curto (R$ 14,148 bilhões) prazos, entre outras aplicações.
Em agosto de 2000, quando o governo vendeu as ações excedentes ao controle na Petrobras, a situação foi bem diferente. O então governo FHC permitiu que o trabalhador colocasse até 50% do saldo do FGTS na Petrobras e ainda deu desconto de 20% no preço das ações.
O desconto valeu até para o investidor pessoa física que colocou recursos próprios.
E, mesmo assim, as ações quase encalharam. Dos R$ 3,4 bilhões reservados, os cotistas do FGTS só colocaram R$ 1,6 bilhão na Petrobras.
No primeiro dia de negócios, os papéis saltaram 14,97% na Bolsa -com o desconto de 20%, o ganho apurado já era de 49,47%.
O sucesso foi tão grande que, dois anos depois, o governo FHC vendeu as ações que ainda tinha na Vale, só que com desconto de 5%.


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