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Peixe amazônico vira opção no mercado de couros exóticos
Projeto quer a criação de uma cadeia produtiva no Amazonas
GRAZIELLE SCHNEIDER
DE SÃO PAULO
A pele dos peixes amazônicos, geralmente descartada no ambiente ou em lixões,
surge como opção para o
mercado brasileiro de couros
exóticos.
A iniciativa é incentivada
pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas por meio do projeto AMA (Ame o Amazonas),
com a grife Iódice.
O material também está na
mira da empresa gaúcha Péltica, que trabalha com couros exóticos e é especializada
no de peixes há três anos.
"Já trabalhamos com o
couro de peixes marítimos do
Maranhão e do Pará. No
Amazonas, além de evitar a
poluição, podemos ganhar
com uma matéria-prima nobre", afirma Alexandre Frasson, sócio na empresa.
A Péltica pesquisou e testou em seu curtume a pele de
diferentes peixes da região.
Por enquanto, foram aprovadas como insumo as do aruanã e do tucunaré.
A pele de algumas espécies, como a pirarara, é mais
resistente que a bovina, de
acordo com Nilson Carvalho,
coordenador do Projeto de
Beneficiamento de Couro de
Peixe do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Além disso, o insumo é
abundante. Atualmente, segundo o instituto, uma tonelada de pele de peixe é desperdiçada por dia no Estado.
Na coleção de inverno da
Iódice, apresentada na São
Paulo Fashion Week, em janeiro, o couro de peixe amazônico foi utilizado para a
confecção de bolsas, de cintos e de sapatos.
Os produtos, cujos preços
vão de R$ 180 a R$ 900, foram bem aceitos pelos clientes da marca, segundo Alexandre Iodice, coordenador
de estilo da Iódice Denim.
CADEIA PRODUTIVA
Entre os planos do governo do Estado e da Iódice está
a criação de uma cadeia de
beneficiamento de couro de
peixe no Estado.
"A gente foi desbravar o
mercado. Agora a ideia é
sempre manter [esses produtos nas coleções], então voltamos a fazer um trabalho de
desenvolvimento. Eles [os
produtores locais] poderão
fornecer para qualquer indústria", explica Iodice.
Ele destaca, além da sustentabilidade, o impacto positivo do desenvolvimento da
atividade na geração de recursos para o Estado e para
os produtores locais.
Se o mercado local der garantia de abastecimento do
insumo, a Péltica abrirá uma
filial no Amazonas.
De acordo com Frasson, o
investimento para a instalação de um curtume com capacidade de processamento
diário de 5.000 peles -incluindo o tratamento de
efluentes- é estimado em
cerca de R$ 2,5 milhões.
Para incentivar os produtores, a empresa já realizou
um curso que os ensinou a
processar a pele de peixe. Para ter valor comercial, o material deve ter 30 centímetros
e não pode ter furos.
Também foram apresentadas as técnicas de curtume
para a sua conservação, já
que, enquanto não houver filial no Amazonas, o transporte até a indústria gaúcha será
feito em caminhão.
De acordo com Carvalho, o
Inpa já havia tentado desenvolver a atividade na região.
"Não vingou porque eles [os
produtores] não quiseram fazer investimentos."
Porém, ele acredita que o
envolvimento de empresas
interessadas no produto "era
o que faltava" para estimular
a produção local.
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