São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Peixe amazônico vira opção no mercado de couros exóticos

Projeto quer a criação de uma cadeia produtiva no Amazonas

GRAZIELLE SCHNEIDER
DE SÃO PAULO

A pele dos peixes amazônicos, geralmente descartada no ambiente ou em lixões, surge como opção para o mercado brasileiro de couros exóticos.
A iniciativa é incentivada pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas por meio do projeto AMA (Ame o Amazonas), com a grife Iódice.
O material também está na mira da empresa gaúcha Péltica, que trabalha com couros exóticos e é especializada no de peixes há três anos.
"Já trabalhamos com o couro de peixes marítimos do Maranhão e do Pará. No Amazonas, além de evitar a poluição, podemos ganhar com uma matéria-prima nobre", afirma Alexandre Frasson, sócio na empresa.
A Péltica pesquisou e testou em seu curtume a pele de diferentes peixes da região. Por enquanto, foram aprovadas como insumo as do aruanã e do tucunaré.
A pele de algumas espécies, como a pirarara, é mais resistente que a bovina, de acordo com Nilson Carvalho, coordenador do Projeto de Beneficiamento de Couro de Peixe do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Além disso, o insumo é abundante. Atualmente, segundo o instituto, uma tonelada de pele de peixe é desperdiçada por dia no Estado.
Na coleção de inverno da Iódice, apresentada na São Paulo Fashion Week, em janeiro, o couro de peixe amazônico foi utilizado para a confecção de bolsas, de cintos e de sapatos.
Os produtos, cujos preços vão de R$ 180 a R$ 900, foram bem aceitos pelos clientes da marca, segundo Alexandre Iodice, coordenador de estilo da Iódice Denim.

CADEIA PRODUTIVA
Entre os planos do governo do Estado e da Iódice está a criação de uma cadeia de beneficiamento de couro de peixe no Estado.
"A gente foi desbravar o mercado. Agora a ideia é sempre manter [esses produtos nas coleções], então voltamos a fazer um trabalho de desenvolvimento. Eles [os produtores locais] poderão fornecer para qualquer indústria", explica Iodice.
Ele destaca, além da sustentabilidade, o impacto positivo do desenvolvimento da atividade na geração de recursos para o Estado e para os produtores locais.
Se o mercado local der garantia de abastecimento do insumo, a Péltica abrirá uma filial no Amazonas.
De acordo com Frasson, o investimento para a instalação de um curtume com capacidade de processamento diário de 5.000 peles -incluindo o tratamento de efluentes- é estimado em cerca de R$ 2,5 milhões.
Para incentivar os produtores, a empresa já realizou um curso que os ensinou a processar a pele de peixe. Para ter valor comercial, o material deve ter 30 centímetros e não pode ter furos.
Também foram apresentadas as técnicas de curtume para a sua conservação, já que, enquanto não houver filial no Amazonas, o transporte até a indústria gaúcha será feito em caminhão.
De acordo com Carvalho, o Inpa já havia tentado desenvolver a atividade na região. "Não vingou porque eles [os produtores] não quiseram fazer investimentos."
Porém, ele acredita que o envolvimento de empresas interessadas no produto "era o que faltava" para estimular a produção local.


Texto Anterior: Análise: Lula não foi generoso com o uso do FGTS na Petrobras
Próximo Texto: Indústria naval pede investimento em frota brasileira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.