São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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NIZAN GUANAES

Os novos múltiplos


A dinâmica econômica do país nos transforma num dos melhores investimentos para o capital global


OS ATIVOS de comunicação do Brasil tiveram na semana passada um choque de realidade, para o bem. O jornal "Financial Times" noticiou que o grupo francês Publicis estaria oferecendo cerca de US$ 200 milhões pela Talent, agência do grande publicitário brasileiro Júlio Ribeiro. É uma grande notícia para a propaganda e para o país.
E não é uma bolha. Nem é à toa que os múltiplos para se calcular o valor dos ativos brasileiros nos próximos anos sejam surpreendentes. A dinâmica econômica do país nos transforma num dos melhores investimentos para o capital global, com sólidos fundamentos por trás do "hype".
Nos Estados Unidos, a Madison Avenue se mudou para Wall Street, e o mundo sabe o quão impiedosa Wall Street pode ser numa crise.
Com líderes sem nenhuma paixão pelo nosso ofício, as agências de propaganda submetidas a esse modelo tornaram-se marionetes de holdings financeiras. No Brasil, a indústria da propaganda nacional, como o nosso sistema bancário, se protegeu da crise global e da política de terra arrasada dos grandes grupos internacionais, engajados numa disputa errada por volume e comoditização. Mas se o comando da comunicação publicitária global pode ser ganancioso, ele não é cego.
Enxerga o futuro no mundo digital e nos mercados não destruídos, como o Brasil. Essa é uma força que funciona nas duas vias. A valorização das empresas brasileiras atrai o capital estrangeiro, mas ela também nos dá musculatura para garimpar boas oportunidades no exterior.
O repórter do "Financial Times" me perguntou se não estava animado para vender o Grupo ABC diante de tamanha valorização. Respondi: estou animado para comprar.
Desculpem o orgulho, mas em apenas oito anos o Grupo ABC se tornou um dos 20 maiores grupos de propaganda do mundo. A meta é ser um dos dez maiores nos próximos cinco anos.
A internacionalização vigorosa, acelerada e criteriosa de grandes grupos brasileiros mostra como já estamos aproveitando as oportunidades que o novo Brasil e nossa moeda forte encontram na nova ordem econômica mundial.
Ainda precisamos avançar muito, principalmente na educação e no ambiente de negócios. Mas se as dificuldades de fazer negócios aqui têm um lado positivo, é que acabam sendo prova de fogo para os gestores brasileiros. Que agora saem a conquistar o mundo.
Se sabemos fazer boa gestão nesse ambiente desfavorável, sabemos fazer boa gestão em qualquer lugar do mundo. As provas abundam. Uma das empresas do Grupo ABC, a Pereira & O'Dell, agência digital de San Francisco criada por nós há dois anos, foi eleita recentemente a melhor agência do mundo no seu porte.
O apetite dos grandes grupos financeiros de publicidade no Brasil revela o enorme potencial do nosso mercado e a saúde de nossa publicidade. Se Julio Ribeiro de fato vendeu, ele não capitulou. Ele vendeu uma vida inteira de integridade. Sua empresa foi e é uma das mais respeitadas e lucrativas do mercado.
Julio sempre vendeu sua opinião a preço de ouro, até porque uma opinião como a de alguém como Julio Ribeiro vale ouro mesmo. Afinal, o autor do memorável slogan "não é nenhuma Brastemp" é uma Brastemp.
E, ao vender parte, metade, o todo, sabe-se lá, da sua agência prestou o mesmo serviço que prestou à publicidade brasileira a vida inteira: valorizou-a. Todos os anos, no mundo inteiro, as maiores empresas disputam quem tem as marcas mais valiosas no mundo e no Brasil.
São os publicitários, os comunicadores, os homens de "branding" os maiores auxiliares da indústria na construção desse valor. Valor que está sendo reconhecido de maneira tangível nessa aventada negociação da Talent. Bravo, Julio. Você mostrou o valor de uma Brastemp.



NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.


AMANHÃ EM MERCADO:
Mario Mesquita




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