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ANÁLISE PECUÁRIA
Alto preço da terra faz rebanho bovino migrar para regiões de fronteira do país
JOSÉ VICENTE FERRAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
A migração do rebanho
bovino brasileiro pelo território nacional é secular e tem
profundas consequências
econômicas, sociais e ambientais.
Como atividade eminentemente extensiva, a bovinocultura de corte é naturalmente expulsa de regiões de
terras mais caras por atividades mais intensivas, que permitem maior faturamento
por unidade de área ocupada
e, consequentemente, uma
melhor "remuneração" pelo
uso da "terra".
Assim, desloca-se, então,
para regiões de fronteira agrícola, onde as terras são mais
baratas.
Nos últimos dez anos, estima-se que, enquanto o rebanho bovino cresceu quase
48% na região Norte e mais
de 70% no Estado do Pará,
encolheu em quase 25% no
Estado de São Paulo.
O fenômeno é responsável
pelo desenvolvimento de novos polos de crescimento
econômico.
Inicialmente, é estruturada uma pequena rede de fornecimento de produtos e serviços para a atividade que se
instala e para um pequeno
contingente de pessoal diretamente empregado.
Logo após, é fortemente
engrossado pelo pessoal empregado nas atividades de
antes e depois da porteira da
fazenda que por ela é atraída.
Abertas as novas áreas, estruturados os novos polos urbanos, implantada a infraestrutura, as terras se valorizam.
Resultado: chega a agricultura, dá-se início à expulsão da pecuária e se acelera o
processo de desenvolvimento regional.
Obviamente, um novo processo de ocupação se inicia
em novas áreas -essa é a lógica da expansão da fronteira agropecuária.
A ocupação de novas áreas
pela bovinocultura de corte
passou a ser, nas últimas décadas e com cada vez mais vigor, combatida por ambientalistas devido ao forte impacto ambiental que a atividade gera.
Busca-se impedi-la totalmente por via legal, para o
bem-estar e segurança dos
atualmente bem-alimentados e dos residentes nas regiões (do país e do mundo)
mais desenvolvidas.
Duas considerações parecem oportunas nesse aspecto
da questão.
Primeira: terão os habitantes dessas regiões não desenvolvidas -que não são tão
poucos como se imagina- o
direito de pleitear o mesmo
acesso a bens e a serviços dos
que atualmente o tem?
Segunda: os mais pobres
podem sonhar, algum dia,
em ter acesso a alimentação
barata o suficiente para tanto?
As soluções usualmente
propostas para a segunda
questão, a de se obter aumentos de produção via ganhos de produtividade e incorporação de áreas degradadas à produção, dependem de viabilidade econômica.
Somente são válidas se, ao
final, o equilíbrio entre custos e receitas decorrente dos
processos produtivos propostos resultar em oferta sustentada por preços acessíveis
aos atuais excluídos.
JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro
agrônomo e diretor técnico da AgraFNP.
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