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No balcão do leão
MINHA HISTÓRIA MARIA HELENA COTTA CARDOZO, 54
Não é tão difícil trabalhar no setor público. Precisa ter criatividade. Se alguém vem com uma ideia que vai resolver a vida de milhões de pessoas, isso vai ser implementado
Açan marques/Folhapress
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Maria Helena Cotta, chefe do atendimento da Receita Federal
RESUMO
Funcionária
pública de carreira, Maria
Helena Cotta, 54, implantou o primeiro balcão de
atendimento ao público
da Receita Federal, em
1993. Até então, o atendimento era quase um favor
dos servidores que interrompiam suas tarefas para
se livrar de visitantes intrusos. No contato com o
público, Maria Helena e
equipe viram que o contribuinte tinha dúvidas simples: restituição, declaração do IR e regras tributárias. "Por que não colocar
na internet?". A aposta
mudou a cara da Receita.
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
Trabalhava na delegacia
da Receita de Brasília, que tinha sempre aquelas filas
imensas em abril, dando volta no quarteirão para deixar a
declaração do IR. No último
dia, a gente trabalhava até
meia-noite. Era um estresse.
O McDonald's tinha acabado de lançar no Brasil os
"drive-thru". Um funcionário
deu a ideia de fazer isso no
prédio da delegacia, em Brasília, para receber as declarações. Colocamos computadores e vários atendentes. A
pessoa ficava dentro do carro, trazia o disquete e passava pelo validador. Era um segundo! Aquela fila andava...
BALCÃO
Até 1993, o atendimento
na Receita era informal. O
atendimento acontecia porque a gente tinha de atender.
Vinha um que precisava de
uma certidão negativa de débitos, outro com algum pedido de isenção... Era aquele
monte de plaquinha de papel
na parede. O contribuinte subia e descia escada...
Os próprios funcionários
no início falavam: eu sou pago pelo governo, meu patrão
é o governo... não tenho que
atender outra pessoa.
Só depois criou-se a filosofia de que quem era o patrão
era o contribuinte.
Os serviços tinham vários
nomes; cada um chamava e
fazia de um jeito. Fizemos
uma lista de serviços e procuramos uniformizar procedimentos. Não tinha sentido
cada delegacia pedir um documento diferente para dar
uma certidão negativa.
INTERNET
Na hora que você começa a
organizar, vê todos aqueles
números que estavam dispersos. Foi quando a internet
começou a se popularizar.
A gente tinha uma moça, a
Alexandra Gruginski, que
era bem novinha e fazia artes
plásticas. Ela sabia fazer páginas na internet e falou: "Se
vocês quiserem, eu faço".
Hoje, ninguém tem dúvida
do potencial da internet; naquela época, era uma aposta.
Muita gente dizia que era
uma coisa elitista.
Começamos com uma pagininha bem tímida, institucional. A gente interagia
muito com o contribuinte, a
maioria era de brasileiros no
exterior. Um mandava um e-mail pedindo a taxa Selic, outro pedia a agenda tributária.
A gente colocava.
O que levava milhares de
pessoas até a Receita? Era a
restituição. Resolvemos fazer
um teste e colocar. No primeiro lote, deu uma pane!
Nunca se imaginou que
tanta gente iria atrás. Acabou
com o argumento de que a internet era elitista.
O Brasil foi o primeiro país
a investir na entrega da declaração pela internet. Isso
mudou a cara da Receita.
Pronto, todo aquele pessoal que tinha resistência
passou a propor coisas.
Nas organizações, as mudanças importantes começam sempre no atendimento
ao público. É onde acontece
o contato com o mundo real.
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