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ANÁLISE
FMI e Banco Mundial não conseguirão conter guerra cambial
Diante do quadro atual, o Brasil deve fazer todo esforço possível para não deixar a taxa de câmbio se apreciar
MÁRCIO HOLLAND
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em estudo elaborado pela
Liga das Nações, em 1944, o
economista R. Nurkse defendia que a definição da taxa de
câmbio não deveria ser deixada nas mãos das forças do
mercado, pois a taxa cambial
flutuante tenderia a ser volátil demais.
Mas ele argumentava também que ela não deveria ser
deixada apenas na mão de
governos individuais.
Nada tão atual quanto essa preocupação.
Desde o acordo de Bretton
Woods, em 1944, quando o
mundo conheceu e defendeu
as virtudes do regime de
câmbio fixo, os EUA já experimentaram, por mais de
uma vez, o clássico "dilema
de Triffin", ou seja, precisaram, como agora, deixar sua
moeda desvalorizar-se para
corrigir desequilíbrios do balanço de pagamentos.
Com isso, porém, foi perdida a confiança na moeda internacional.
A política cambial pode
ser entendida como o uso da
taxa de câmbio para alcançar
estabilidade de preços ou
maiores taxas de crescimento econômico.
Seria de esperar que países
considerados desenvolvidos,
com elevados níveis de renda
per capita e instituições maduras, não administrassem
suas taxas de câmbio, até
porque não costumam ter inflação nem mesmo precisam
montar uma estratégia de
crescimento econômico via
uso da taxa de câmbio. Mas
não é isso o que acontece.
A administração do câmbio seria comportamento típico de economias emergentes como a brasileira, que geralmente sofrem do "medo
da flutuação"; ou sofrem do
"medo da apreciação", como
a economia chinesa.
Afinal, a taxa de câmbio é
um poderoso instrumento de
política econômica para alcançar baixas taxas de inflação ou altas taxas de crescimento, motivada por aumentos nas exportações.
O ajuste do mundo após a
grande crise financeira de
2008 reeditou o debate à luz
de um novo ator, a China.
Mais uma vez, economias
desenvolvidas clamam para
o ajuste global via economias
emergentes (leia-se China), e
suplicam que deixem suas
moedas se apreciarem.
CORREÇÕES
Nesse processo, o Brasil
está longe de ser o culpado,
já que temos uma taxa de
câmbio apreciada e volátil.
Em ambiente de anormalidade global, não cabe ao Brasil, com menos de 2% no comércio mundial, promover o
ajuste para o mundo.
Cabe ao Brasil se proteger,
pois estamos em uma guerra
cambial já revelada e anunciada, que organismos internacionais frágeis como o FMI
e o Banco Mundial dificilmente conseguirão mitigar.
Cabe ao Brasil fazer todo o
esforço possível para não
deixar a taxa de câmbio se
apreciar.
Mas como? Para correções
nominais no curto prazo, valem controles de capitais,
quantitativos e qualitativos;
se for o caso, valem até anúncios de pisos móveis e crescentes para a taxa nominal
de câmbio.
No entanto, para correções
na taxa de câmbio real de
longo prazo, é necessário o
anúncio de um importante e
profundo ajuste fiscal com
claras metas de superavit nominais, associadas a metas
de expansão nas taxas de investimento público em detrimento das despesas correntes.
MARCIO HOLLAND é professor da Escola
de Economia de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas (FGV), onde coordena o
Programa de Pós-Graduação em Economia,
e pesquisador do CNPq.
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