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ANÁLISE AGRONEGÓCIO
Recuperação de preços agrícolas ameaça taxa de inflação no curto e longo prazos
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A recuperação em curso
dos preços agrícolas é fruto
do expressivo crescimento
dos países emergentes e da
conjunção de fatores climáticos que vem atingindo diversos países produtores.
Poderia se pensar que, se
esses fatores climáticos fossem passageiros, em pouco
tempo a subida dos preços
estaria contida.
É preciso ter em conta, porém, que o mundo continua
com liquidez elevada.
No Brasil, embora o câmbio valorizado amorteça o repasse dos aumentos do mercado externo, o nosso forte
crescimento econômico, com
o baixo desemprego e com
reajustes salariais bem acima
da inflação, também pode
acomodar qualquer tendência de alta.
Em suma, o terreno é perigoso para choques de oferta
em tempos de demanda firme. Se, por ventura, o movimento do câmbio mudasse
de direção, poderia se perder
a âncora controladora dos
preços internos.
O foco da discussão do
quadro macroeconômico
brasileiro, porém, migrou da
inflação para a taxa de câmbio, considerada exageradamente valorizada.
Nessa situação, o governo
brasileiro faz coro a uma diversidade de países que
veem na estratégia da China
-de manter a paridade de
sua moeda ao dólar americano- a raiz dos seus desajustes cambiais, com impactos
deletérios sobre as suas contas externas e sobre setores
menos competitivos.
Lembre-se, porém, que as
recriminações à China se
avolumaram a partir da crise
financeira que derrubou as
economias desenvolvidas, as
quais, para aliviar os impactos recessivos, encharcaram
de liquidez a si próprias e,
bem assim, o mundo todo.
Até então, a política cambial chinesa era considerada
bastante conveniente para
muitos países, especialmente os desenvolvidos.
Para o Brasil, o yuan mantinha-se em níveis desconfortáveis, mas suportáveis. Agora, o desequilíbrio entre as
moedas é sentido muito mais
intensamente.
Resulta forte pressão para
que as autoridades tomem
alguma atitude abrindo sua
caixa de ferramentas supostamente capazes de, unilateralmente, conter o ímpeto da
entrada de moedas estrangeiras no país.
O mais provável é que se
assista a um desfile de medidas que costumeiramente
são lembradas nessas ocasiões.
Todas elas de eficácia duvidosa, como mostra a experiência e consideradas a atração que o país exerce sobre
os capitais disponíveis em
abundância internacionalmente, e a competitividade
do Brasil nos setores mais ligados aos recursos naturais.
Neste momento em que as
luzes se voltam para as turbulências financeiras, não se
deve perder de vista o longo
prazo, especialmente estando o país em meio ao processo eleitoral, em que são selecionados governantes e legisladores para os próximos
quatro anos.
Para a agricultura -mais
do que o controle do câmbio-, é essencial que seja
mantida e fortalecida a estratégia que garantiu estabilidade de preços, melhorias na
distribuição de renda e formação de um grosso colchão
de divisas estrangeiras.
Os principais desafios são
recuperar e expandir a infraestrutura; manter o crescimento de produtividade, para garantir preços baixos e
preservação de recursos naturais; obter ganhos concretos nas negociações internacionais; e apoiar mais os produtores rurais, principalmente os menores, que não
têm acompanhado a modernização do setor.
Como evidenciou o Censo
de 2006, entre esses campeiam o analfabetismo, a falta de financiamento e de assistência técnica e o baixo nível de renda. Em síntese, a regra é: não descuidar da "galinha dos ovos de ouro".
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
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