São Paulo, terça-feira, 09 de novembro de 2010

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Dilma herdará Brasil no G10 do FMI

Com mudança no número de cotas, país saltará do 14º para o 10º lugar e terá mais poder nas decisões do Fundo

Decisão será adotada na sexta, na cúpula do grupo, mas só entrará em vigor em 2012, no 2º ano do governo Dilma

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

O presidente Lula legará a Dilma Rousseff não apenas a sua cadeira no Palácio do Planalto mas também um posto mais relevante no jogo mundial do poder econômico: o Brasil entrará no que pode ser batizado de G10, ou seja, os dez países com mais cotas e, portanto, mais poder no FMI (Fundo Monetário Internacional).
A mudança de cotas foi aprovada no mês passado, em reunião dos ministros de Economia e presidentes de bancos centrais do G20, e será sacramentada na sexta-feira, na cúpula do grupo. Mas só entrará em vigor em 2012, ou seja, no segundo ano do governo Dilma.
O Brasil saltou do 14º lugar, com 1,78% das cotas, para o 10º, com 2,32% -um avanço, portanto, de 30%, bastante significativo. Mas o grande salto, previsivelmente, foi o da China, que viu seu poder no fundo aumentar mais de 50%, passando do 6º para o 3º lugar, com 6,39% das cotas [ver quadro].
A mudança foi festejada por todos, exceto os países europeus que perderam poder, e apresentada como um novo e mais acurado equilíbrio de poder na economia mundial.
De fato, o poder no FMI ficou em mãos do antigo G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, que ocupa o 11º lugar) mais os chamados Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).
"A nova posição do Brasil está mais de acordo com sua participação na economia mundial", diz o embaixador Marcos Galvão, o principal negociador técnico do país no G20 e que, no mês que vem, assume a embaixada em Tóquio.
O Brasil é a 9ª economia mundial, se medida em paridade do poder de compra, que leva em conta os preços internos, o que é perfeitamente compatível com seu 10º lugar no Fundo.
Mas o reequilíbrio de poder está longe de ser perfeito: por mais que os Bric avancem e os Estados Unidos patinem, Washington continua com poder de veto.
As regras do Fundo determinam que qualquer decisão precisa de 85% dos votos de países-membros para ser adotada. Os EUA, sozinhos, têm 17,41%, o que lhes permite impedir os 85%.

SOB NOVA DIREÇÃO
De todo modo, a mudança no poder ficou ainda mais relevante com o papel reforçado que o G20 está atribuindo ao Fundo. A instituição está incumbida, por exemplo, de avaliar o impacto em outros países de políticas de "economias sistêmicas", conforme o comunicado do mês passado dos ministros e presidentes de BCs.
Traduzindo: ao Fundo sob nova direção caberá, por exemplo, verificar o custo, para outros países, da polêmica decisão, adotada pelo governo Obama na semana passada, de irrigar a sua economia com US$ 600 bilhões, nos próximos oito meses.
Decisão que reacendeu o que o ministro Guido Mantega batizou de "guerra cambial", item que tende a ser o ponto central da cúpula do G20, de que Dilma e Lula participam quinta e sexta-feira.
Ontem à noite (na Coreia, manhã no Brasil), os negociadores começaram a alinhavar o documento final.
Mas o fizeram pela parte fácil: discutiram o acordo batizado de Basileia 3, ou seja, as novas regras para o funcionamento do sistema financeiro, aprovadas no âmbito do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de BC dos bancos centrais, cuja sede é na cidade suíça de Basileia).
São regras nascidas por determinação da primeira cúpula do G20, há dois anos, e que não enfrentam resistências entre os países-membros. Os bancos é que não estão satisfeitos com elas.
A chamada "guerra cambial" será discutida mais adiante, mas a expectativa é que, ao contrário do habitual em cúpulas, os próprios chefes de governo é que fornecerão as indicações para essa parte do documento final.

FOLHA.com
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