São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Apple seduz educadores públicos nos EUA

Empresa convida funcionários da área de educação para apresentações em sua sede com diárias e refeições pagas

Autoridades de cidade de Minnesota que participaram de visita fecharam a compra de iPads para 1.700 alunos

Craig Lassig/ New York Times
Estudantes testam iPad em escola de Litte Fals, no Minnesota (EUA); autoridades locais compraram 1.700 aparelhos após visita à sede da Apple

MATT RICHTEL
DO "NEW YORK TIMES"

Três vezes nos dois últimos anos, as autoridades escolares de Little Falls, Minnesota, escaparam do frio do inverno para visitas de dois dias ao Vale do Silício. Seu destino: a sede da Apple.
Em visitas que descreveram como inspiradoras, os educadores foram apresentados aos mais recentes aparelhos da companhia, conversaram sobre educação com executivos e jantaram em restaurantes elegantes. A Apple bancou suas refeições e sua estadia em um hotel próximo.
As visitas tiveram retorno para a empresa, igualmente - US$ 1,2 milhão em vendas. Em setembro, Little Falls distribuiu iPads a 1.700 dos 2.500 alunos da cidade.
A Apple corteja o mercado de educação com uma operação avançada de vendas que os educadores definem como única, e que entidades consideram como preocupante.
Além dos métodos tradicionais, a empresa convida educadores de todo o país para "briefings executivos", que os participantes descrevem como combinação de conversa, seminário e visita de bastidores.
Mike Dean, porta-voz da Common Cause of Minnesota, uma organização apartidária que promove a transparência no governo, critica as visitas, definindo-as como tráfico de influência.
Ele disse acreditar que uma lei estadual que proíbe funcionários do governo de aceitar "qualquer coisa de valor" oferecida por fornecedores se aplica igualmente às estadias em hotéis e jantares.
E afirmou que a Apple oferecia uma experiência cujo objetivo era fazer com que potenciais compradores se sentissem conectados. Natalie Kerris, porta-voz da empresa, disse que a educação "é parte de nosso DNA". Quanto à participação de funcionários públicos nas viagens, Kerris diz: "Recomendamos que respeitem os regulamentos locais".
Os esforços de vendas prosseguem apesar das dúvidas sobre a efetividade da alta tecnologia no desempenho educacional. Na biografia de Steve Jobs, o autor descreve uma conversa entre o fundador da Apple e Bill Gates na qual "concordaram que os computadores, até o momento, tiveram impacto surpreendentemente modesto nas escolas".

VISITAS
Matt Mello, diretor de tecnologia da delegacia de educação de Holly, em Michigan, visitou a sede da Apple em Cupertino em abril de 2010.
"Chegamos lá de olhos abertos, mas ainda hesitantes. Será que haveria algo que justificasse abandonarmos nossa base? E eles nos convenceram", diz.
O argumento decisivo, afirma, foram as apresentações sobre os novos monitores de alta definição da companhia. "Nós trocávamos olhares, como que dizendo ser incrível que eles estivessem disponíveis por aqueles preços."
O distrito substituiu seus computadores por modelos Apple, distribuindo 210 laptops aos professores em 2010, e, no início deste ano letivo, em setembro, 450 iPads a alunos de segundo grau. O preço da conversão: US$ 637 mil.
Mello viajou acompanhado por dois diretores de escola, dois vice-diretores e um professor. A Apple bancou suas refeições e a estadia num hotel próximo de sua sede.
Rick Robinson, diretor-executivo da Rede de Finanças de Campanha de Michigan, organização apartidária de fiscalização, diz não acreditar que os educadores tenham violado as leis estaduais, mas afirmou que a questão ética envolvida parecia ser uma área de indefinição aos funcionários públicos.
"A prática é aceitável sob a ética dos negócios", disse, "mas não é boa para a ética do serviço público."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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