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ANÁLISE COMBUSTÍVEIS
No setor de energia, o etanol significa o novo e o petróleo representa o velho
ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA
No início do governo Lula,
a grande estrela do setor de
energia era o etanol. O presidente brasileiro, de forma
correta, transformou-se num
grande embaixador do etanol e internamente criou o
programa do biodiesel.
Com o anúncio das descobertas do pré-sal no final de
2007, os biocombustíveis foram trocados pelo petróleo e,
daí para a frente, segundo o
governo, o futuro do país está
diretamente ligado à exploração do petróleo na camada
do pré-sal.
O governo enviou para o
Congresso projetos modificando o marco regulatório do
petróleo, a Petrobras anunciou a construção de cinco
refinarias, investimentos de
US$ 200 bilhões para os próximos cinco anos e uma capitalização de US$ 50 bilhões.
Enfim, o Brasil no século
21 parece que elegeu a energia do século 20 como principal instrumento para alcançar seu desenvolvimento.
Ao tornar a Petrobras campeã nacional, esqueceu-se de
que o petróleo é uma energia
com altos riscos ambientais e
que sua grande utilização
não condiz com a moderna
economia de baixo carbono.
Mas eis que ocorre a explosão de uma plataforma de exploração "offshore" da BP
(British Petroleum) localizada no golfo do México, em 20
de abril passado, que, certamente, vai provocar mudanças no mercado de petróleo.
A primeira mudança foi o
anúncio do presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, de adiar o plano para
ampliar a exploração e a produção de petróleo e gás natural "offshore" até 2017.
O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger,
também anunciou que não
autorizará a exploração
"offshore" na costa do Estado. A Noruega também suspendeu a exploração no mar
por prazo indeterminado.
A segunda mudança será o
aumento dos custos de exploração e de produção de
petróleo "offshore".
Não há dúvida de que a
descoberta de petróleo na camada pré-sal é notícia alvissareira, mas pode levar a um
retrocesso na matriz energética nacional.
Essa ameaça torna-se ainda mais concreta se houver
políticas governamentais populistas de subsídios aos derivados, o que não é raro no
Brasil.
Muitos especialistas já
alertam sobre o perigo de o
Brasil contrair a chamada
"doença holandesa", com a
inundação de dinheiro na
economia que pode vir da
produção do petróleo da camada pré-sal.
Porém, outra doença tão
ou mais grave é o Brasil retroceder e sujar sua matriz energética ao inviabilizar as fontes renováveis como o etanol.
Faz todo sentido e merece
atenção a faixa de protesto
exibida na cerimônia de lançamento dos quatro projetos
de lei do pré-sal: "Pré-sal e
poluição: não dá pra falar de
um sem falar do outro".
ADRIANO PIRES é diretor do Centro
Brasileiro de Infra Estrutura (Cbie).
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