São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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NIZAN GUANAES

Espanha e África ganharam a Copa


Para 2014, temos de ter a visão que teve a África do Sul, de afirmar sua cultura através da arquitetura e do design


HOJE, MINHA coluna para o jornal é um conjunto de notas sobre a emocionante experiência de viver a Copa do Mundo da África do Sul. Viajei pelo país durante quase 20 dias e descobri que não existe nada daquela frase babaca que estamos tão acostumados a ouvir: "Foi uma coisa de Primeiro Mundo". Foi coisa de África.
O símbolo maior do que digo é o estádio Soccer City, palco de grandes jogos do Mundial e um diamante da arquitetura africana feito por um escritório de Johannesburgo chamado TC Design Architects. Lindo e só reforça o que eu já sabia, que o design da África do Sul é fortíssimo.
Tanto isso é verdade que é na Cidade do Cabo onde se realiza o melhor evento de design do mundo, o Design Indaba. Um exemplo a ser seguido.
Quando design e arquitetura de alto nível encontram a natureza exuberante, o resultado pode ser, por exemplo, a excelente hotelaria que tem a África do Sul.
Só na região dos vinhos do Cabo, há melhores hotéis do que em todo o Brasil. Hotelaria, definitivamente, não é uma força do nosso país e, por essa razão, deve ser uma das metas para 2014, quando receberemos tantos visitantes.
O nosso desafio não é apenas construir grandes hotéis, mas também termos a visão que teve a África do Sul, de afirmar sua cultura através da arquitetura e do design. Essa é uma consciência que a sociedade brasileira precisa ter como um todo. Não é o governo que faz o mercado imobiliário fazer neoclássicos aos montes na cidade de São Paulo. Quem determina é a demanda crescente, e o mercado coloca os nomes dos prédios de Château Margaux porque sabe que essas bobagens é que vendem no dia a dia.
Quando eu era jovem, lembro muito bem que nos ensinavam Educação Moral e Cívica nas escolas. Não precisa.
Basta ensinar de forma correta literatura, música, história -isso sim é a base para a nossa educação, para o nosso saber. Quem ama a língua portuguesa ama o Brasil. A Copa de 2014 será, em campo, a celebração do esporte que é paixão nacional, mas fora dele deve ser uma celebração de nossa cultura e da linda forma de ser do Brasil. Que é um e vários.
Temos de ter competência mercadológica para vender todos os nossos principais destinos. Tanto os turísticos como os empresariais. E eles são muitos.
O Brasil tem agora quatro anos de visibilidade para marquetear sua economia, sua cultura, seus produtos, suas cidades, suas regiões, suas oportunidades econômicas. Elas estão aqui, à nossa vista. Basta agir de forma correta.
Para isso, não podemos ter uma visão bairrista, focada somente no regional. Devemos vender o Brasil de ponta a ponta. São Paulo e Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o Carnaval, o Boi de Parintins e tantas outras maravilhas. Sem folclore, mas com toda a nossa cultura impressa.
Precisamos ter um plano de aceleração cultural bem desenhado.
Uma grande oportunidade de dizer ao mundo que somos mais do que um mercado emergente, somos uma cultura emergente que vai exportar artes plásticas, cinema, literatura, música. Mostrando ao mundo, que conhece o nosso talento pelos pés, tudo que o nosso talento também faz com as mãos.
Assim o Brasil se faz mais respeitado lá fora e o Brasil se respeita mais aqui dentro.
Um Brasil inteiro terá de ser construído para a Copa do Mundo de 2014 e até para a Olimpíada que vai ocorrer em 2016, na cidade do Rio de Janeiro.
Pois que seja construído com arte, com boa arquitetura. Que a arte brasileira esteja por todos os lados, nos aeroportos, nos metrôs, nas praças públicas e na nossa rede hoteleira.
Se fizermos apenas um Brasil para turista ver, vamos jogar fora uma oportunidade de ouro. Que bom que somos o país do futebol, do samba e da caipirinha. Mas não é só isso -somos muito mais.
Foi o que a África do Sul conseguiu passar aos seus visitantes durante a Copa que terminou no domingo. Por isso, ao lado da Espanha, ela também foi campeã no Mundial de 2010.

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve quinzenalmente, às terças-feiras, nesta coluna.



AMANHÃ EM MERCADO:
Mário Mesquita


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