São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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OMS quer proibir aditivos no cigarro

Diretrizes para regular produtos do tabaco devem ser aprovadas em conferência internacional nesta semana

Ingredientes tornam o fumo mais atrativo e transformam-se em substâncias tóxicas, segundo a organização

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

O uso de aditivos nos cigarros brasileiros, prática que torna o fumo mais atrativo, pode estar com os dias contados.
Nesta semana, representantes de 171 países, incluindo o Brasil, reúnem-se no Uruguai para aprovar diretrizes para a regulamentação dos produtos do tabaco.
Trata-se da Conferência das Partes (COP 4) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco -tratado internacional desenvolvido sob a chancela da OMS (Organização Mundial da Saúde) para reduzir o consumo do cigarro e os danos à saúde de quem continua fumando.
As diretrizes devem recomendar proibição ou restrições ao uso de ingredientes nos cigarros, como açúcares, flavorizantes e umectantes.
Estudos da TobReg (Tobacco Regulation) -grupo da OMS- mostram que esses aditivos aumentam a palatabilidade dos cigarros.
"Documentos internos da indústria do cigarro e estudos científicos da TobReg mostram que alguns aditivos têm a função de aumentar o poder da nicotina de causar dependência", diz Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conicq (Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro), grupo interministerial criado para tratar do tema.
Após conflitos no grupo, a posição do Brasil está definida: o país apoiará a adoção de restrições aos aditivos e deve adotá-las após trâmites da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), segundo a Conicq.

IMPACTOS
O Brasil será um dos países mais afetados pela medida. A restrição ao uso de aditivos comprometerá o emprego do fumo tipo "burley" nos cigarros -a espécie é utilizada no "american blend", mistura preferida dos brasileiros.
Como o fumo "burley" é curado ao ar livre, perde o açúcar natural durante o processo de secagem. Com isso, o tabaco fica mais amargo e, para torná-lo mais palatável, adiciona-se açúcar.
Cavalcante, que é médica, afirma que, ao serem queimados, os aditivos tornam-se substâncias tóxicas. "A queima do açúcar libera acetaldeído, que aumenta a capacidade da nicotina de causar dependência", diz.
Mas Humberto Conti, gerente de ciência e regulamentação da Souza Cruz, afirma que o açúcar natural do tabaco não é diferente do que é acrescentado e, portanto, a adição não aumenta o risco inerente ao cigarro.
"Proibir a adição de açúcar não significa reduzir o nível dessa substância no cigarro", diz. Para ele, com a proibição, a tendência é que a indústria use outros tipos de fumo "mais carregados no açúcar" naturalmente.
A polêmica envolvendo a proibição de aditivos no cigarro foi tema da campanha presidencial. Apontado como antitabagista, José Serra tentou se aproximar dos fumicultores e, em carta ao setor, lembrou que o governo Lula apoiou a adesão do Brasil à convenção. Mesmo assim, foi derrotado por Dilma Rousseff em grandes municípios produtores de fumo.


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