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ANÁLISE
Crise do PanAmericano pede reforma na política de crédito
ROBERTO LUIS TROSTER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A reação, após a descoberta das distorções no Panamericano, foi primorosa, o BC
atuou rapidamente, e o FGC,
sob a condução de Gabriel
Ferreira, foi decisivo em acabar com a crise antes mesmo
de ela começar.
Os números mostram um
quadro grave. Se a fraude foi
de R$ 2,2 bilhões e a soma
dos lucros publicados nos últimos quatro anos é de R$
500 milhões, quando os balanços da instituição forem
refeitos, registrar-se-á um
prejuízo acumulado no quadriênio de R$ 1,7 bilhão, que
foram mascarados com as
operações relatadas pelo BC.
Os valores permitem concluir que as taxas cobradas
pelo banco não garantiram
sua solvência e podem ter induzido os executivos a praticarem contabilidade "criativa" para garantir sua sobrevivência até que num segundo momento, quando a bonança voltasse, corrigissem
as distorções. Se o fizeram,
não deveriam ter agido assim.
Como foi possível que um
banco, que cobrava juros entre os mais altos nos segmentos em que atuava, tenha tido
prejuízos desse montante?
Embora a responsabilidade
seja 100% dos administradores, parte da explicação está
na crise de 2008, que teve um
impacto mais severo para as
camadas mais baixas e parte
numa razão estrutural, que é
o ônus adicional existente na
base da pirâmide social.
Enquanto em outros países há políticas para favorecer a base, no Brasil, a situação é inversa. O BNDES oferece financiamento subsidiado
a grandes empresas e o pequeno, com baixa informação, é desfavorecido. Ilustrando o ponto, a tributação é
maior quanto mais alta for a
taxa cobrada e o prazo da
operação e, em caso de uma
renegociação, há mais tributação ainda.
O quadro é agravado pela
prática de pagar comissões
aos que direcionam os empréstimos para as instituições bancárias; a delegação
do critério de concessão ao
originador do crédito; a falta
de transparência nas taxas
por classe de tomador por
instituição bancária; e os critérios contábeis de apropriação de receitas, especialmente na negociação de carteiras.
Enfim, a crise conclama a
uma análise das falhas e o
segmento pede uma política
de crédito consistente com as
ambições do país.
ROBERTO LUIS TROSTER , 60, é doutor em
economia pela USP e foi economista-chefe
da Febraban, da ABBC e do Banco
Itamarati.
robertotroster@uol.com.br
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