São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Crise do PanAmericano pede reforma na política de crédito

ROBERTO LUIS TROSTER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A reação, após a descoberta das distorções no Panamericano, foi primorosa, o BC atuou rapidamente, e o FGC, sob a condução de Gabriel Ferreira, foi decisivo em acabar com a crise antes mesmo de ela começar.
Os números mostram um quadro grave. Se a fraude foi de R$ 2,2 bilhões e a soma dos lucros publicados nos últimos quatro anos é de R$ 500 milhões, quando os balanços da instituição forem refeitos, registrar-se-á um prejuízo acumulado no quadriênio de R$ 1,7 bilhão, que foram mascarados com as operações relatadas pelo BC.
Os valores permitem concluir que as taxas cobradas pelo banco não garantiram sua solvência e podem ter induzido os executivos a praticarem contabilidade "criativa" para garantir sua sobrevivência até que num segundo momento, quando a bonança voltasse, corrigissem as distorções. Se o fizeram, não deveriam ter agido assim.
Como foi possível que um banco, que cobrava juros entre os mais altos nos segmentos em que atuava, tenha tido prejuízos desse montante?
Embora a responsabilidade seja 100% dos administradores, parte da explicação está na crise de 2008, que teve um impacto mais severo para as camadas mais baixas e parte numa razão estrutural, que é o ônus adicional existente na base da pirâmide social.
Enquanto em outros países há políticas para favorecer a base, no Brasil, a situação é inversa. O BNDES oferece financiamento subsidiado a grandes empresas e o pequeno, com baixa informação, é desfavorecido. Ilustrando o ponto, a tributação é maior quanto mais alta for a taxa cobrada e o prazo da operação e, em caso de uma renegociação, há mais tributação ainda.
O quadro é agravado pela prática de pagar comissões aos que direcionam os empréstimos para as instituições bancárias; a delegação do critério de concessão ao originador do crédito; a falta de transparência nas taxas por classe de tomador por instituição bancária; e os critérios contábeis de apropriação de receitas, especialmente na negociação de carteiras.
Enfim, a crise conclama a uma análise das falhas e o segmento pede uma política de crédito consistente com as ambições do país.


ROBERTO LUIS TROSTER , 60, é doutor em economia pela USP e foi economista-chefe da Febraban, da ABBC e do Banco Itamarati.

robertotroster@uol.com.br



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