São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

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RODOLFO LANDIM

Infraestrutura para gás natural


O Brasil terá aumento da produção de gás, mas não tem infraestrutura de rede suficiente para absorvê-lo


UM DOS FATORES que podem ser apontados como fundamentais para a manutenção das altas taxas de crescimento dos países é a disponibilidade de energia.
Para melhor compreendermos os desafios envolvidos nesse processo, é importante classificarmos dois tipos distintos de forma de acesso à energia, independentemente de sua fonte geradora. Assim, podemos dizer que, a rigor, existem dois grandes modos de consumir energia.
O primeiro é o que podemos chamar de energia de rede, que é levada ao consumidor por meio de uma infraestrutura de transporte fisicamente contínua desde a(s) fonte(s) de geração.
A segunda seria exatamente o oposto, ou energia fora de rede, na qual o consumidor precisa gerar a sua própria energia a partir de um combustível qualquer ou utilizar energia armazenada em uma bateria, por ser o acesso a ela feito de forma interrupta.
O tipo mais clássico de energia de rede é a energia elétrica, fundamental para o bem-estar e o conforto da sociedade moderna.
Mas existe outra forma de rede importante, no caso para levar um tipo especial de combustível ao consumidor final, que é a do gás natural. Ela ocorre porque somente em condições muito especiais o gás pode ser colocado em um recipiente e transportado, a exemplo dos demais combustíveis sólidos e líquidos.
Por trás da viabilização das redes está sempre o desafio da viabilidade técnico-econômica de sua implantação, que depende da escala de consumo e do custo da energia por elas suprida e da alternativa energética existente. Por exemplo, o sistema elétrico brasileiro não é totalmente interligado.
Alguns locais muito distantes e com baixo consumo de energia, notadamente na Amazônia, ainda são supridos de energia elétrica a partir de gerações locais, mesmo que a custo elevado, porque não é econômico construir enormes linhas de transmissão para levar outra energia até lá, mesmo tendo sido esta gerada a custo menor. A pequena economia obtida devido ao baixo consumo não pagaria o investimento.
Mas, quando analisamos a forma com que as redes de energia elétrica foram e de certa forma ainda são viabilizadas, verificamos que, por muitos anos, as expansões foram feitas por meio de mecanismos que subsidiam sua ampliação, seja na implantação de longas linhas de transmissão para locais de baixo consumo, seja para a chegada da distribuição a lares distantes, algo mais do que justificável pelo impacto social que produz.
Já no caso das redes de gás natural, o processo foi muito distinto. Sempre foram enfrentadas grandes dificuldades -que passaram inicialmente pela falta de matéria-prima, uma vez que a produção nacional era baixa para justificá-las, e, posteriormente, pela forte concorrência pelo mercado com os demais combustíveis.
Além disso, era necessário disputar recursos para os investimentos com os demais negócios da Petrobras que, na maioria das vezes, apresentavam taxas de retorno significativamente maiores.
Os mecanismos de incentivo eram inexistentes e mesmo os que foram posteriormente criados para a expansão de gasodutos de transporte não têm sido utilizados e foram até mesmo deslocados para programas de eletrificação.
Mas por que hoje é importante garantir que os incentivos cheguem à indústria do gás e até mesmo sejam ampliados? Com o aumento da produção de óleo do pré-sal, o Brasil terá necessariamente, dentro de alguns anos, um grande aumento da produção de gás natural e não tem infraestrutura de rede suficiente para absorvê-lo integralmente.
E o problema é que o gás natural produzido que não for colocado na rede e consumido terá de ser reinjetado nos campos a altos custos sem gerar benefícios ou até mesmo acabará sendo queimado.
O gás natural é uma valiosa fonte de energia e, se o Brasil quiser usá-la no limite do seu potencial, vai precisar agir rapidamente.
É necessário desenvolver novos mercados, incentivar a construção de grandes gasodutos e garantir que as empresas distribuidoras tenham condições de fazer com que ele chegue ao seu destino final.

RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.


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