São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2011

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SEGREDOS DO ITAMARATY FOLHA TRANSPARÊNCIA

Diplomacia brasileira ajudou empreiteiras

Itamaraty tentou interferir em licitações internacionais de obras financiadas pelo BID e pelo Banco Mundial

Apesar da atuação do corpo diplomático nos bastidores, empresas não conseguiram vencer concorrentes


RUBENS VALENTE
FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA

Telegramas confidenciais do Itamaraty revelam que o corpo diplomático do Brasil tentou interferir em licitações internacionais para ajudar empreiteiras brasileiras a conseguirem contratos de obras públicas financiadas pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e pelo Banco Mundial.
Eles fazem parte de um novo lote de 77 documentos que a Folha divulga hoje no "Folha Transparência", um projeto na Folha.com que torna públicas informações de interesse da sociedade e que já disponibilizou 517 telegramas sigilosos.
As licitações ocorreram nos anos 1990 na Venezuela, na Colômbia, na China, nas Filipinas, na Bolívia e no Irã.
A gestão feita pelos embaixadores é classificada no meio diplomático como "promoção comercial". Os telegramas agora revelados permitem verificar como ela ocorreu.
Em 1997, o consórcio das brasileiras Odebrecht e Andrade Gutierrez disputava licitação na Venezuela para construir a hidrelétrica Caruachi, inaugurada em 2006 ao preço de US$ 2,1 bilhões.
A Venezuela declarou vencedor um concorrente espanhol e enviou o processo para aprovação do BID, em Washington, financiador da obra.
O embaixador brasileiro Paulo Tarso Flecha de Lima procurou o presidente do BID, Enrique Iglesias, para denunciar supostas irregularidades na licitação. A intenção dos brasileiros era reverter a decisão original.
O embaixador disse que o deficit bilateral de US$ 1 bilhão do Brasil com a Venezuela "recomendava que o Brasil promovesse a exportação de serviços" como a construção da usina. O pleito do Brasil foi derrotado.

PROVIDÊNCIAS
Em 1991, a Andrade Gutierrez, em disputa com a italiana Cogefar, foi derrotada em concorrência da Colômbia para a construção da barragem de San Rafael, com financiamento do Banco Mundial.
A empreiteira brasileira apontou supostas irregularidades na disputa.
O Itamaraty requisitou ao embaixador em Washington "providências no sentido de acompanhar a evolução do assunto no Bird" e que, se o embaixador entendesse adequado, deveria "indagar sobre a possibilidade de a instituição [banco] apoiar a posição da Andrade Gutierrez".
A vice-presidência de operações da Odebrecht afirmou à Folha que "toda operação internacional é feita em alinhamento com o Itamaraty e nada vai contra a política externa brasileira".
Segundo a empresa, "há uma relação de parceria com o Itamaraty", descrito como "facilitador do diálogo no exterior".
Procurado, o embaixador Flecha de Lima disse, por meio da assessoria, que não gostaria de comentar "assuntos internos" do Itamaraty.
A Andrade Gutierrez não se manifestou.


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