São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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ANÁLISE

Produtos exportados para a AL tendem a gerar mais emprego

ALEXANDRE DE FREITAS BARBOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando comparamos as economias dos países latino-americanos nos últimos 20 anos, um primeiro fator que merece destaque é a sua crescente heterogeneidade. Os desníveis em termos de ritmo de crescimento econômico refletem as especificidades de suas estruturas produtivas e dos padrões de inserção externa, além dos diferentes pesos dos seus respectivos mercados internos.
Se, durante os anos 1990, o Brasil apresentou um crescimento econômico inferior à média da região, esse quadro parece agora estar mudando. Entre 2004 e 2006, o PIB brasileiro ainda cresceu abaixo da média regional. Já no biênio 2007-2008, a economia brasileira superou o ritmo de crescimento médio dos seus parceiros. Essa tendência manteve-se durante a crise: em 2009, o Brasil apresentou um crescimento "zero", ante uma queda de 1,8% para a média latino-americana. Em 2010, tudo indica que o Brasil se afirmará como o país mais dinâmico da região, de acordo com as estimativas da Cepal.
Como explicar esse relativo descolamento do desempenho econômico brasileiro? Vários fatores parecem determinantes: o perfil do comércio exterior brasileiro, mais diversificado por produtos e destinos, a dimensão do mercado interno, a estrutura produtiva mais complexa e integrada e a maior capacidade de executar políticas anticíclicas, industrial, tecnológica e de financiamento de longo prazo.
Quer isso dizer que o Brasil depende menos dos "hermanos"? Ao contrário, quando se analisa o superavit comercial brasileiro dos primeiros cinco meses deste ano, observa-se que as transações com os países da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) respondem por 66% desse saldo, enquanto a tão badalada China responde por 33%.
Deve-se acrescentar ainda que os produtos exportados para a região -geralmente produtos industriais sofisticados- tendem a gerar mais empregos e de melhor qualidade, além de importantes encadeamentos produtivos internos. A continuar esse cenário, o Brasil tenderá a exercer uma importância maior para a expansão das demais economias latino-americanas, o que tende, por sua vez, a reforçar o potencial das nossas exportações regionais. Nesse sentido, os acordos regionais poderiam ir para além do campo comercial e avançar nos campos da complementação produtiva e da expansão de infraestrutura.


ALEXANDRE DE FREITAS BARBOSA é economista, historiador e professor do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP.



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