São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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ENTREVISTA

Para historiador, Sarkozy erra no método político

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

Nicolas Sarkozy acerta ao buscar reformar a previdência, mas erra ao optar pelo confronto direto com a sociedade, diz o historiador francês Pierre Rosanvallon.
Ele concedeu entrevista à Folha, por e-mail, antes de viajar a São Paulo, onde lança amanhã o livro "Por Uma História do Político".

Folha - Sarkozy está certo em reformar a previdência? Pierre Rosanvallon - Sarkozy está, de fato, encarando alguns desafios. Mas o problema está no método político. O impasse sobre as aposentadorias é um bom exemplo. A democracia social no estilo francês perdeu o conteúdo. O poder político está numa arriscada confrontação direta com a rua, que torna difícil qualquer concessão. Por trás dessa posição existe a ideia de que o único poder legítimo é o eleito, e que movimentos sociais não expressam nada além de uma visão particular e, por isso, não devem ser considerados.

O que define o que o senhor chama de sarkozysmo?
Não há apenas um sarkozysmo. Houve, sucessivamente, o sarkozysmo liberal, o nacional-colbertista [protecionista], o securitário e o quase xenófobo. Berlusconi, na Itália, e Cameron, no Reino Unido, são parecidos. Representam uma direita conquistadora e sem complexos.
O verdadeiro fenômeno na Europa é essa guinada geral à direita. Desde junho de 2009, quando houve as últimas eleições para o Parlamento europeu, os 13 pleitos legislativos nacionais que ocorreram na Europa deram vitória à direita.
Mas, ao contrário da direita social e republicana de gente como Jacques Chirac, a ruptura que Sarkozy representa não é somente uma questão de estilo.
Sarkozy não hesita em tomar emprestado parte da linguagem e da agenda da extrema direita. Mas, aí também, é algo comum a todos os países europeus. Até a Suécia, fortaleza social-democrata, viu a extrema-direita se impor como fiel da balança na última eleição.

Por que isso acontece?
No atual momento histórico, o da segunda globalização, estão ressurgindo as mesmas tentações que na primeira. Entre 1890 e 1914, a aceleração dos intercâmbios (capitais, migrações, transporte) já havia gerado ideias e comportamentos regressivos: nacionalismo, xenofobia, protecionismo. É isso que estamos vivendo.

A crise é da União Europeia?
Ao contrário dos países emergentes, a Europa não tem uma representação positiva do futuro. Se tivesse uma, ela deveria se ver como um espaço experimental de regulação econômica e jurídica, que poderia servir de teste à gestão controlada dos grandes problemas. Sua vocação deveria encarnar um tipo de universalismo limitado, em vez de apostar num improvável federalismo.


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