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ENTREVISTA
Para historiador, Sarkozy erra no método político
SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO
Nicolas Sarkozy acerta ao
buscar reformar a previdência, mas erra ao optar pelo
confronto direto com a sociedade, diz o historiador
francês Pierre Rosanvallon.
Ele concedeu entrevista à
Folha, por e-mail, antes de
viajar a São Paulo, onde
lança amanhã o livro "Por Uma História do Político".
Folha - Sarkozy está certo
em reformar a previdência?
Pierre Rosanvallon - Sarkozy está, de fato, encarando alguns desafios. Mas o
problema está no método
político. O impasse sobre as
aposentadorias é um bom
exemplo. A democracia social no estilo francês perdeu
o conteúdo. O poder político está numa arriscada confrontação direta com a rua,
que torna difícil qualquer
concessão. Por trás dessa
posição existe a ideia de
que o único poder legítimo
é o eleito, e que movimentos sociais não expressam
nada além de uma visão
particular e, por isso, não
devem ser considerados.
O que define o que o senhor
chama de sarkozysmo?
Não há apenas um sarkozysmo. Houve, sucessivamente, o sarkozysmo liberal, o nacional-colbertista [protecionista], o securitário e o quase xenófobo.
Berlusconi, na Itália, e Cameron, no Reino Unido, são
parecidos. Representam
uma direita conquistadora
e sem complexos.
O verdadeiro fenômeno
na Europa é essa guinada
geral à direita. Desde junho
de 2009, quando houve as
últimas eleições para o Parlamento europeu, os 13 pleitos legislativos nacionais
que ocorreram na Europa
deram vitória à direita.
Mas, ao contrário da direita social e republicana de
gente como Jacques Chirac,
a ruptura que Sarkozy representa não é somente
uma questão de estilo.
Sarkozy não hesita em tomar emprestado parte da
linguagem e da agenda da
extrema direita. Mas, aí
também, é algo comum a todos os países europeus. Até
a Suécia, fortaleza social-democrata, viu a extrema-direita se impor como fiel da
balança na última eleição.
Por que isso acontece?
No atual momento histórico, o da segunda globalização, estão ressurgindo as
mesmas tentações que na
primeira. Entre 1890 e 1914,
a aceleração dos intercâmbios (capitais, migrações,
transporte) já havia gerado
ideias e comportamentos
regressivos: nacionalismo,
xenofobia, protecionismo.
É isso que estamos vivendo.
A crise é da União Europeia?
Ao contrário dos países
emergentes, a Europa não
tem uma representação positiva do futuro. Se tivesse
uma, ela deveria se ver como um espaço experimental de regulação econômica
e jurídica, que poderia servir de teste à gestão controlada dos grandes problemas. Sua vocação deveria
encarnar um tipo de universalismo limitado, em vez de
apostar num improvável federalismo.
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