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ANÁLISE
Fracionado, sindicalismo francês se une em momentos-chave
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os franceses preservam,
em termos de identidade política, uma nítida separação
entre direita e esquerda.
Mesmo assim, não estão
mais convencidos de que os
conflitos girem em torno da
luta de classes. Isso é válido
para os partidos. Não tanto
quanto aos sindicatos.
Por mais que só 8% dos assalariados sejam sindicalizados, as grandes centrais são
historicamente porta-vozes
do descontentamento com
claros matizes ideológicos.
São elas que encabeçam o
protesto contra o projeto oficial de ampliar o tempo de
contribuição para a aposentadoria. Deram novamente
ontem uma eloquente demonstração de força.
O curioso é que nos demais
grandes países da União Europeia a mesma questão foi
equacionada sem conflitos
tão espalhados. Em verdade,
cada caso é um caso.
No Reino Unido as centrais
incorporaram o reformismo
do Partido Trabalhista e
atuam hoje, pontualmente,
contra o corte de gastos públicos para conter o deficit.
Na Alemanha, o sindicalismo dominante está ligado
à social democracia. A Guerra Fria e a existência da comunista Alemanha Oriental
neutralizou os radicalismos.
Entre os espanhóis, as centrais são bastante ativas, mas
têm como herança política as
alianças com a não esquerda.
Na Itália, o sindicalismo é
uma colcha de retalhos, com
sérias divisões doutrinárias.
O caso mais curioso é o da
Suécia. Com uma taxa de sindicalização elevadíssima, a
aposentadoria foi discutida
dentro de uma cultura de
consensos própria à tradição
da social democracia local.
PARCELAMENTO
Na França, não há imposto
sindical, e os sindicatos não
têm o monopólio geográfico
da representação de determinada categoria. Na mesma
categoria, pode haver sindicato da CGT (Confederação
Geral dos Trabalhadores),
outro da CFDT, com o maior
contingente de filiados (800
mil), da Força Operária, reformista, ou da CFTC, ligada
aos movimentos católicos.
Esse parcelamento poderia ser um fator favorável,
"dividir para melhor reinar",
para governo e organizações
patronais. Mas nos momentos de negociações, os tentáculos das grandes centrais se
coligam em intersindicais. E
esses mesmos tentáculos disputam avidamente espaço
numa espécie de leilão em
busca de maiores vantagens
-adesão de mais filiados.
No caso do atual movimento, a burocracia trabalhista atua coligada. Não paralisou o setor privado, mas
bloqueou parte do país por
estar em setores públicos estratégicos, como transportes.
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