São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Fracionado, sindicalismo francês se une em momentos-chave

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os franceses preservam, em termos de identidade política, uma nítida separação entre direita e esquerda.
Mesmo assim, não estão mais convencidos de que os conflitos girem em torno da luta de classes. Isso é válido para os partidos. Não tanto quanto aos sindicatos.
Por mais que só 8% dos assalariados sejam sindicalizados, as grandes centrais são historicamente porta-vozes do descontentamento com claros matizes ideológicos.
São elas que encabeçam o protesto contra o projeto oficial de ampliar o tempo de contribuição para a aposentadoria. Deram novamente ontem uma eloquente demonstração de força.
O curioso é que nos demais grandes países da União Europeia a mesma questão foi equacionada sem conflitos tão espalhados. Em verdade, cada caso é um caso.
No Reino Unido as centrais incorporaram o reformismo do Partido Trabalhista e atuam hoje, pontualmente, contra o corte de gastos públicos para conter o deficit.
Na Alemanha, o sindicalismo dominante está ligado à social democracia. A Guerra Fria e a existência da comunista Alemanha Oriental neutralizou os radicalismos.
Entre os espanhóis, as centrais são bastante ativas, mas têm como herança política as alianças com a não esquerda. Na Itália, o sindicalismo é uma colcha de retalhos, com sérias divisões doutrinárias.
O caso mais curioso é o da Suécia. Com uma taxa de sindicalização elevadíssima, a aposentadoria foi discutida dentro de uma cultura de consensos própria à tradição da social democracia local.

PARCELAMENTO
Na França, não há imposto sindical, e os sindicatos não têm o monopólio geográfico da representação de determinada categoria. Na mesma categoria, pode haver sindicato da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), outro da CFDT, com o maior contingente de filiados (800 mil), da Força Operária, reformista, ou da CFTC, ligada aos movimentos católicos.
Esse parcelamento poderia ser um fator favorável, "dividir para melhor reinar", para governo e organizações patronais. Mas nos momentos de negociações, os tentáculos das grandes centrais se coligam em intersindicais. E esses mesmos tentáculos disputam avidamente espaço numa espécie de leilão em busca de maiores vantagens -adesão de mais filiados.
No caso do atual movimento, a burocracia trabalhista atua coligada. Não paralisou o setor privado, mas bloqueou parte do país por estar em setores públicos estratégicos, como transportes.


Texto Anterior: Entrevista: Para historiador, Sarkozy erra no método político
Próximo Texto: Commodities:
China suspende a exportação de minerais raros para EUA e Europa

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.