São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Morte e vida recessiva nos EUA
A GRANDE RECESSÃO nos EUA começou em dezembro de 2007 e terminou em junho de 2009, segundo os integrantes do NBER, um grupo de especialistas tido como o oráculo (do passado) das crises. Em maio de 2009, um mês antes do fim ainda então desconhecido da recessão, a taxa de desemprego pulava a barreira dos 9%. Ainda está em 9,6%. Se a isso forem somados os americanos que sobrevivem de bicos precários, ela vai a uns 16%. Na média, o desemprego deve ficar em 9,7% neste ano e em 9% em 2011, diz a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), clube de 33 países ricos e de uns outros como o México. Mesmo que o PIB cresça 2,6% neste ano, o nível de produção da economia ainda será equivalente ao de algum momento do fim de 2007. No mínimo, três anos de estagnação. Desemprego e recessão não são a mesma coisa, claro. As empresas americanas recompuseram estoques e algumas até investiram um pouco para fazê-lo, daí o fim da recessão. No entanto, é uma escalada de alguns degraus a partir de um poço fundo. Dada a grande flexibilidade da economia dos EUA, as empresas estão fortes e sacudidas. Flexibilidade significa facilidade de cortar empregos, salários e benefícios. Em bases anuais, o lucro médio sobe mais de 30%. Mas não há fonte nova de dinamismo, fator que impulsione investimentos. Por ora, o complexo China e cia. mantém o mundo rodando. Nos EUA, as exportações não ajudam. Não há invenção tecnológica ou novo setor para incentivar o investimento. O mercado imobiliário costumava ser um fator da retomada do crescimento -nas recessões "normais", a taxa de juros caía e estimulava o mercado. Não agora. As famílias e os financiadores de casas quebraram ou precisam abater dívida e recompor poupança. O patrimônio das famílias caiu quase 17% desde dezembro de 2007 (quase US$ 11 trilhões). Metade dos financiamentos imobiliários existentes está na conta do governo; indiretamente, o BC dos EUA refinanciou mais de US$ 1 trilhão em hipotecas. De cada 10 novos financiamentos, o Estado garante 7, direta ou indiretamente. O mercado imobiliário foi estatizado. Aliás, parte importante da dívida privada americana foi estatizada. O problema mudou de lugar: evitou-se uma depressão ao custo do endividamento monstro do governo. As autoridades econômicas e os maiores economistas dos EUA têm opiniões opostas sobre as políticas necessárias para evitar nova recessão ou retomada mais forte. O Fed (o BC dos EUA) discute se ou quando deve ir ao mercado comprar mais dívida emitida pelo governo, o que, em tese, baixaria a taxa de juros de longo prazo e estimularia o crédito, devagar quase parando devido à relutância dos bancos e das famílias, endividadas ou desempregadas. Bancões acham que o Fed vai fazê-lo a partir de janeiro do ano que vem. Mas a direção do Fed está dividida sobre a questão. O governo Barack Obama diz que vai soltar outro pacote de gastos a fim de estimular a economia. Uns economistas acham bom, mas criticam a timidez fiscal. Outros acham que o governo tem de baixar imposto e cortar gastos. Não se trata de pendenga entre manés, mas entre os maiores cérebros econômicos da pátria da ciência econômica. vinit@uol.com.br Texto Anterior: Varejo: Walmart estuda lojas menores nos EUA para revitalizar crescimento Próximo Texto: EUA tiveram maior recessão em 70 anos Índice | Comunicar Erros |
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