São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

O capitalismo vermelho tornou-se o eixo comercial do mundo

ERNESTO LOZARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A política de crescimento chinês elegeu, corretamente, o setor externo como sendo o caminho da modernização econômica, de redução da pobreza e de aumento da riqueza nacional. Em meio à maior crise financeira, o país cresceu 10,5% em 2010.
Em 1978 o setor externo chinês -importação mais exportação- representou 0,6% do total mundial. Em 2010, esse setor respondeu por 10,2% do total.
No ano passado, a China tornou-se a segunda maior economia no comércio internacional, atrás apenas dos Estados Unidos.
A abertura econômica de um país mede-se pelo tamanho do setor externo em relação ao PIB. Em 2010, o setor externo chinês respondeu por 46% da produção. Neste ano, a China deverá exportar e importar quase US$ 2 trilhões. Em duas décadas, o país se tornou uma economia aberta e competitiva.
No Brasil essas estatísticas não foram na mesma direção. Em 1978, o setor externo representou 0,8% do total do comércio mundial e, no ano passado, esse setor comercializou 1,2%. Incipiente.
Em 2009, a abertura econômica nacional esteve em torno de 23% da produção nacional, mas representou 15% do PIB. Neste ano, a corrente de comércio deverá ficar em torno de US$ 360 bilhões. Trata-se de uma economia relativamente fechada ao mercado global, portanto, pouco competitiva.
No ano passado, a China se manteve como o principal parceiro do Brasil, cuja corrente de comércio fechou em US$ 56,3 bilhões: o cres- cimento foi de 52% em relação a 2009.
Nossas exportações à China, em torno de US$ 30 bilhões, representaram 6% do total em 2010. Poderíamos exportar muito mais. Nossas dificuldades comerciais estão, principalmente, na cultura empresarial chinesa.
O Ministério da Agricultura firmou um protocolo de exportação de carnes bovinas, suínas e aves e entregou aos chineses a proposta de certificado sanitário internacional há mais de dois anos, e nada aconteceu. Isso não quer dizer que os chineses não venham a cumprir os acordos estabelecidos.
A burocracia do governo é imensa. No entanto, as províncias têm um elevado grau de autonomia para dar licença de importação para um determinado empresário, independentemente de acordos entre governos.
Caso a importação chinesa inclua investimentos em ativos, digamos a compra de frigoríficos brasileiros para tornar as exportações mais ágeis e seguras, a morosidade burocrática desaparece.
Essa regra vale para qualquer produto. No ano passado, os chineses investiram US$ 19 bilhões no Brasil. Valor expressivo.
É preciso entender que eles são grandes empre- endedores e não meros comerciantes.
Para enfrentar o capitalismo vermelho, o Brasil precisa ter regras claras, desen- volvimentistas e consistentes no processo de parcerias internacionais na transformação das nossas riquezas em um bem nacional.

ERNESTO LOZARDO é professor de economia da EAESP-FGV e autor do livro "Globalização: a Certeza Imprevisível das Nações".


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