São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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BENJAMIN STEINBRUCH

Futebol e economia


Com vista a 2014 e 2016, o Brasil entrará num período em que esporte e economia terão de caminhar juntos


HÁ DOIS fatos preocupantes em relação a Copas do Mundo. O primeiro diz respeito à própria atuação da seleção brasileira, que teve uma vitória apertada na estreia na África contra a Coreia do Norte e, no domingo, venceu bem a Costa do Marfim.
O segundo envolve a decisão da Fifa de excluir o Morumbi da lista dos estádios que vão sediar jogos da Copa no Brasil, em 2014. Ficou implícito que essa exclusão poderá levar ao uso de recursos públicos para a construção de um novo estádio em São Paulo.
A capital paulista merece uma arena moderna para o futebol, que possa receber a abertura da Copa, mas certamente esse empreendimento pode ser feito pelo setor privado. O São Paulo Futebol Clube deu garantias de R$ 265 milhões para reformar o Morumbi; a Fifa exige investimentos de R$ 630 milhões. A construção de um novo estádio poderá custar de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões, valores que dificilmente serão bancados pela iniciativa privada.
Os repórteres da Folha mostraram que a Fifa não aplicou para os estádios da Alemanha e da África do Sul o mesmo rigor que impõe ao Morumbi. Não é admissível que tal rigor leve governos a gastar recursos públicos que deveriam ser dirigidos a obras permanentes de infraestrutura, como aeroporto, metrô, avenidas, rodovias, ferrovias e sistemas de comunicação.
Afora essas duas preocupações, registre-se que o país, como se esperava, tem parado cada vez que a seleção entra em campo na África. Dias atrás, li um artigo em que um economista calculava o valor das perdas de produção durante a Copa em razão da paralisação de trabalhadores: US$ 1,2 bilhão no Brasil e US$ 10,4 bilhões no mundo só na primeira fase do torneio, com 48 jogos entre 32 países.
Desconfio de cálculos como esses, até porque as horas de trabalho perdidas são, em geral, compensadas. Mas, mesmo que o número referente ao Brasil fosse verdadeiro, a parada valeria a pena.
Sabem os leitores da Folha que não tenho receio de exaltar os valores e as conquistas nacionais, porque sem uma boa dose de nacionalismo sadio não é possível construir uma nação próspera e moderna. Quem tiver dúvidas a respeito disso pode consultar a história.
As Copas, assim como outros campeonatos esportivos internacionais, são uma poderosa arma para injetar o sentimento nacionalista entre os brasileiros. Nesses momentos, as pessoas balançam bandeiras que não são vistas mais nem no Dia da Independência e perdem a timidez de vestir verde e amarelo e cantar o Hino Nacional.
Enquanto os brasileiros tiverem vergonha de mostrar orgulho nacional, os setores estratégicos do país continuarão sendo ameaçados. Não se trata de afastar o capital estrangeiro -longe disso-, e sim de preservar áreas como petróleo, energia, mineração, siderurgia, transportes e telecomunicações preferencialmente ao capital nacional. Isso é nacionalismo sadio.
É certo que a seleção não desperta tanto entusiasmo nesta Copa como em algumas outras. Quase a totalidade dos jogadores atua no exterior e a não convocação de algumas jovens revelações frustrou boa parte da torcida.
Apesar de algumas falhas mostradas nas duas primeiras apresentações, considero o Brasil favorito para ganhar a Copa, com a Argentina em segundo lugar.
Quando o Mundial acabar, seja o Brasil campeão ou não, vai começar para o país a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Aí, sim, o Brasil entrará num período em que, verdadeiramente, o esporte e a economia terão de caminhar juntos.
Com o pretexto e a pressão da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio, o país terá a oportunidade de realizar um plano de médio prazo de investimentos com importantes obras de infraestrutura.
Se essas obras forem bem conduzidas pelo governo, deixando outras como estádios e hotéis para a iniciativa privada, o país chegará a 2014/ 16 com cara nova, mais de acordo com seu papel internacional de potência emergente na economia, competitiva no esporte em geral e dominante no futebol.


BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Escreve às terças, quinzenalmente, nesta coluna.
bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO: Alexandre Schwartsman



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