São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

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ANÁLISE

Queda nos preços dos alimentos teria ocorrido mesmo sem aumento do juro

JOÃO SABOIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Copom voltou a aumentar ontem a taxa básica de juros da economia (Selic). A razão é a mesma de sempre: as altas dos preços que ameaçam o não cumprimento da meta inflacionária do ano, de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O comportamento da taxa neste ano lembra o ocorrido em 2008, quando sofreu aumento contínuo devido às pressões inflacionárias do início do ano, só recuando a partir de janeiro de 2009, quando o país sofria fortes reflexos da crise econômica.
Assim como em 2008, as pressões inflacionárias deste ano estão muito influenciadas por aumento nos preços dos alimentos que, segundo o IBGE, seriam "decorrentes, em grande parte, de problemas climáticos neste ano".
Em outras palavras, combate-se a inflação causada principalmente por choques de oferta com o remédio adequado para choques de demanda.
Vejamos os números do IPCA. Ao fechar o primeiro semestre de 2010, a inflação mensal de junho foi zero, ou seja, não houve inflação naquele mês. Por outro lado, no trimestre encerrado em junho ela atingiu 1%.
No acumulado do ano, ela atinge 3,1% e, nos últimos 12 meses, 4,8%. Portanto, o ritmo inflacionário deste ano anda muito próximo da meta de 4,5%.
Os três principais itens do IPCA -alimentação, transporte e habitação- representam mais da metade do peso no cálculo do índice.
Desses, apenas a alimentação contribuiu acima da média do IPCA, atingindo 4,5% no primeiro semestre.
O aumento da habitação foi de 2,2%, enquanto os transportes subiram só 1,5%.
No caso da educação o aumento semestral foi de 5,6%, nas despesas pessoais, 4,2%, no vestuário, 3,3%, e na saúde, 3,1%. Esses quatro itens representam cerca de um terço do IPCA.
A aceleração inflacionária do início do ano foi claramente revertida a partir de maio, quando o preço dos alimentos passou a contribuir para a queda da inflação.
Em junho, por exemplo, houve redução de 0,9% nos preços dos alimentos. Por sinal, a queda foi generalizada -ocorreu nas 11 regiões cobertas pelo IPCA.
O movimento de queda da inflação continua forte neste mês, conforme mostram os resultados do IPCA-15 divulgado recentemente.
Os preços dos alimentos permanecem em queda e o ritmo de crescimento dos preços dos itens não alimentícios é muito baixo. O IPCA deverá apresentar ser negativo neste mês.
Caminhamos, portanto, para o cumprimento da meta inflacionária de 2010. O mesmo item que a ameaçou no início do ano está agora contribuindo favoravelmente. A maior ironia nesse caso é que a queda nos preços dos alimentos teria acontecido mesmo sem o aumento da taxa Selic.


JOÃO SABOIA é diretor do Instituto de Economia da UFRJ.


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