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ANÁLISE
Queda nos preços dos alimentos teria ocorrido mesmo sem aumento do juro
JOÃO SABOIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Copom voltou a aumentar ontem a taxa básica de juros da economia (Selic).
A razão é a mesma de sempre: as altas dos preços que
ameaçam o não cumprimento da meta inflacionária do
ano, de 4,5%, com tolerância
de dois pontos percentuais
para mais ou para menos.
O comportamento da taxa
neste ano lembra o ocorrido
em 2008, quando sofreu aumento contínuo devido às
pressões inflacionárias do
início do ano, só recuando a
partir de janeiro de 2009,
quando o país sofria fortes reflexos da crise econômica.
Assim como em 2008, as
pressões inflacionárias deste
ano estão muito influenciadas por aumento nos preços
dos alimentos que, segundo
o IBGE, seriam "decorrentes,
em grande parte, de problemas climáticos neste ano".
Em outras palavras, combate-se a inflação causada
principalmente por choques
de oferta com o remédio adequado para choques de demanda.
Vejamos os números do
IPCA. Ao fechar o primeiro
semestre de 2010, a inflação
mensal de junho foi zero, ou
seja, não houve inflação naquele mês. Por outro lado, no
trimestre encerrado em junho ela atingiu 1%.
No acumulado do ano, ela
atinge 3,1% e, nos últimos 12
meses, 4,8%. Portanto, o ritmo inflacionário deste ano
anda muito próximo da meta
de 4,5%.
Os três principais itens do
IPCA -alimentação, transporte e habitação- representam mais da metade do peso
no cálculo do índice.
Desses, apenas a alimentação contribuiu acima da
média do IPCA, atingindo
4,5% no primeiro semestre.
O aumento da habitação
foi de 2,2%, enquanto os
transportes subiram só 1,5%.
No caso da educação o aumento semestral foi de 5,6%,
nas despesas pessoais, 4,2%,
no vestuário, 3,3%, e na saúde, 3,1%. Esses quatro itens
representam cerca de um terço do IPCA.
A aceleração inflacionária
do início do ano foi claramente revertida a partir de
maio, quando o preço dos alimentos passou a contribuir
para a queda da inflação.
Em junho, por exemplo,
houve redução de 0,9% nos
preços dos alimentos. Por sinal, a queda foi generalizada
-ocorreu nas 11 regiões cobertas pelo IPCA.
O movimento de queda da
inflação continua forte neste
mês, conforme mostram os
resultados do IPCA-15 divulgado recentemente.
Os preços dos alimentos
permanecem em queda e o
ritmo de crescimento dos
preços dos itens não alimentícios é muito baixo. O IPCA
deverá apresentar ser negativo neste mês.
Caminhamos, portanto,
para o cumprimento da meta
inflacionária de 2010.
O mesmo item que a ameaçou no início do ano está agora contribuindo favoravelmente. A maior ironia nesse
caso é que a queda nos preços dos alimentos teria acontecido mesmo sem o aumento da taxa Selic.
JOÃO SABOIA é diretor do Instituto de
Economia da UFRJ.
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