São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Geração de empregos se concentra em baixos salários

CLAUDIO SALVADORI DEDECCA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os resultados de setembro da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) apresentaram tendência positiva, tanto em termos da redução do desemprego como da evolução dos rendimentos.
A taxa média de desemprego aberto das regiões metropolitanas alcançou um patamar relativamente baixo (6,2%), havendo uma discrepância significativa entre Salvador (10,3%) e Porto Alegre (4,1%).
Os resultados indicaram declínio do desemprego por desalento ou com jornada insuficiente de trabalho.
A menor desocupação tem sido acompanhada de um crescimento anualizado da população no mercado de trabalho de 1,9%, ante um incremento de 2,8% do total da população ocupada e de 4,7% dos empregos com carteira de trabalho.
Duas inquietações têm sido manifestadas em relação à tendência observada. Uma se refere à possibilidade da continuidade da queda do desemprego, e a outra sobre a representatividade do resultado metropolitano para o conjunto do país.
Quanto à primeira, é expressiva a possibilidade da desaceleração da queda da taxa no próximo ano, ao menos por três motivos: expectativa de um crescimento econômico menos intenso em 2011, aumento da participação econômica da população e taxa de desemprego muito reduzida para alguns segmentos populacionais.
Em relação à segunda inquietação, dados do Ministério do Trabalho vêm mostrando uma expansão mais expressiva das áreas não metropolitanas na geração de empregos formais.
Mesmo na ausência de informação específica, é possível que o desemprego venha caindo mais rapidamente nessas áreas, comparativamente ao informado pela PME.
Do ponto de vista quantitativo, o país tem sido exitoso no equacionamento do problema de ocupação e da redução da informalidade.
Entretanto, atenção adicional se faz necessária quanto aos ganhos qualitativos que esse movimento tem propiciado. A geração de ocupações encontra-se fortemente concentrada nos baixos rendimentos e em ocupações de baixa qualificação.
É fundamental alargar o debate sobre a superação do problema de emprego no país, debatendo possíveis iniciativas de políticas públicas visando romper essas duas restrições da geração atual de ocupações.
É necessário, ao menos, enfrentar o problema da qualidade da educação, em especial da formação básica, fortalecer a negociação coletiva e articular as políticas setoriais ao sistema público de qualificação e intermediação de mão de obra. Independentemente da sua vontade, a nova Presidência terá esses temas em sua agenda em 2011.


CLAUDIO SALVADORI DEDECCA é professor do Instituto de Economia da Unicamp.


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