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Arkansas mostra alternativas para a indústria dos jornais
Com o foco no impresso e cobrança por conteúdo na web, "Democrat-Gazette" vira exemplo
Na contramão do setor de mídia americano, diário de Little Rock viu sua circulação crescer na última década
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A LITTLE ROCK (ARKANSAS)
Little Rock, capital de Arkansas (EUA), é, à primeira
vista, candidata improvável
a inventar modelos visionários para o mundo dos grandes jornais: tem menos de
200 mil pessoas espalhadas
por uma grande área verde
cortada por um rio.
Mas é de lá que o publisher
Walter E. Hussman Jr. vem
convencendo o país de que
seu estilo de liderança no
diário "Arkansas Democrat-Gazette" -foco no jornal impresso, investimento na
equipe e cobrança de acesso
ao site do jornal- pode ser o
caminho para a superação da
crise da indústria de mídia
norte-americana.
Seu mote é simples: proteger o valor do produto. "Não
faz sentido dar notícias de
graça de um lado e esperar
que paguem pela mesma coisa depois", disse à Folha.
A ideia chocou muitos ao
ser implementada, no fim de
2001, quando era quase obrigatório oferecer conteúdo
grátis na internet. Hussman
determinou que quem não
assinasse o jornal teria de pagar taxa mensal ou diária para acesso irrestrito a seu site.
"Inicialmente os leitores
ficaram irados", afirmou o
publisher. "Ligavam sem parar para reclamar. Colocamos um gerente para falar
com todos e explicar que não
sabemos como sobreviver
gastando US$ 10 milhões por
ano na produção de notícias
e entregar depois de graça."
O empresário teve de suportar também o escárnio de
outros publishers. Mas, contra todas as apostas, a estratégia deu certo.
Enquanto assistia ao declínio da indústria ao seu redor,
o "Democrat-Gazette" se tornou aberração ao ver a circulação aumentar entre 1998 e
2008 -de 173.316 para
176.275 na média diária.
Mesmo a crise financeira
global não teve impacto tão
dramático. Enquanto boa
parte do setor perdeu até
30% dos assinantes, o "Democrat-Gazette" manteve,
até setembro, 169.458 cópias
diárias na semana e 258.160
aos domingos.
Cortes de funcionários foram limitados a menos de
10% depois do início da recessão no país. O grupo que
controla o "New York Times", por exemplo, cortou
20% no ano passado.
RECEITA
O "Arkansas Democrat-Gazette" não obtém nem 1%
de sua receita com a cobrança no site. O objetivo do modelo é manter os assinantes
do jornal impresso, que gera
95% da receita do grupo.
Mas boa parte da indústria
mantém o ceticismo.
"Acho que [Hussman] tem
uma visão míope do futuro
da indústria", disse Shafqat
Islam, consultor de estratégia on-line para jornais. "Está sacrificando sucesso futuro em favor de lucros rápidos
baseados em um produto
que está morrendo."
Apesar de ser parte de uma
minoria, Hussman é estudado com crescente atenção.
Em 2008, foi eleito "publisher do ano" pela publicação
"Editor & Publisher".
Os figurões em Nova York
e Londres começam a concordar. O "Financial Times"
e o "Wall Street Journal" já
têm sistemas de cobrança
por acesso na internet; o
"New York Times" dará início ao seu em janeiro.
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