São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Arkansas mostra alternativas para a indústria dos jornais

Com o foco no impresso e cobrança por conteúdo na web, "Democrat-Gazette" vira exemplo

Na contramão do setor de mídia americano, diário de Little Rock viu sua circulação crescer na última década

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A LITTLE ROCK (ARKANSAS)

Little Rock, capital de Arkansas (EUA), é, à primeira vista, candidata improvável a inventar modelos visionários para o mundo dos grandes jornais: tem menos de 200 mil pessoas espalhadas por uma grande área verde cortada por um rio.
Mas é de lá que o publisher Walter E. Hussman Jr. vem convencendo o país de que seu estilo de liderança no diário "Arkansas Democrat-Gazette" -foco no jornal impresso, investimento na equipe e cobrança de acesso ao site do jornal- pode ser o caminho para a superação da crise da indústria de mídia norte-americana.
Seu mote é simples: proteger o valor do produto. "Não faz sentido dar notícias de graça de um lado e esperar que paguem pela mesma coisa depois", disse à Folha.
A ideia chocou muitos ao ser implementada, no fim de 2001, quando era quase obrigatório oferecer conteúdo grátis na internet. Hussman determinou que quem não assinasse o jornal teria de pagar taxa mensal ou diária para acesso irrestrito a seu site.
"Inicialmente os leitores ficaram irados", afirmou o publisher. "Ligavam sem parar para reclamar. Colocamos um gerente para falar com todos e explicar que não sabemos como sobreviver gastando US$ 10 milhões por ano na produção de notícias e entregar depois de graça."
O empresário teve de suportar também o escárnio de outros publishers. Mas, contra todas as apostas, a estratégia deu certo.
Enquanto assistia ao declínio da indústria ao seu redor, o "Democrat-Gazette" se tornou aberração ao ver a circulação aumentar entre 1998 e 2008 -de 173.316 para 176.275 na média diária.
Mesmo a crise financeira global não teve impacto tão dramático. Enquanto boa parte do setor perdeu até 30% dos assinantes, o "Democrat-Gazette" manteve, até setembro, 169.458 cópias diárias na semana e 258.160 aos domingos.
Cortes de funcionários foram limitados a menos de 10% depois do início da recessão no país. O grupo que controla o "New York Times", por exemplo, cortou 20% no ano passado.

RECEITA
O "Arkansas Democrat-Gazette" não obtém nem 1% de sua receita com a cobrança no site. O objetivo do modelo é manter os assinantes do jornal impresso, que gera 95% da receita do grupo.
Mas boa parte da indústria mantém o ceticismo.
"Acho que [Hussman] tem uma visão míope do futuro da indústria", disse Shafqat Islam, consultor de estratégia on-line para jornais. "Está sacrificando sucesso futuro em favor de lucros rápidos baseados em um produto que está morrendo."
Apesar de ser parte de uma minoria, Hussman é estudado com crescente atenção. Em 2008, foi eleito "publisher do ano" pela publicação "Editor & Publisher".
Os figurões em Nova York e Londres começam a concordar. O "Financial Times" e o "Wall Street Journal" já têm sistemas de cobrança por acesso na internet; o "New York Times" dará início ao seu em janeiro.


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