São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2010

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ANÁLISE

País se atrela a altos gastos públicos e baixa poupança

Cenário também revela tolerância com inflação maior que padrões mundiais


MILAGRES SUSTENTAM A EXÓTICA COMBINAÇÃO DE ESTADO EUROPEU, CONSUMO LATINO-AMERICANO E CRESCIMENTO ASIÁTICO


GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

O festival de indicadores e projeções que começa a ser divulgado neste final de mês reforça consensos firmados na economia política nacional a respeito da agenda do próximo governo, independentemente do resultado das eleições gerais.
Em resumo, o Brasil é e pretende continuar sendo um país de muito consumo, sinônimo de pouca poupança; de gasto público e carga de impostos recordes e em alta; disposto a tolerar uma inflação elevada para padrões internacionais.
Estão fora da pauta pretensões do passado a respeito de reformas radicais na Constituição, ajustes dolorosos nas contas públicas ou um Banco Central independente com metas de Primeiro Mundo. Foram ofuscadas por um crescimento econômico que se acreditava impossível sem elas.
A paz, assegurada neste ano, depende no futuro próximo da durabilidade dos pequenos milagres que sustentam a exótica combinação de Estado europeu, consumo latino-americano e crescimento asiático.
Há cinco anos, com breve interrupção em 2009, a arrecadação do governo aumenta em velocidade superior à do Produto Interno Bruto, sem novos impostos, alíquotas ou perseguição aos sonegadores -e mesmo com a extinção da CPMF.
A aparente explicação para o fenômeno é o aumento da renda e a formalização de trabalhadores e empresas, mas os prognósticos para sua continuidade são igualmente pouco sólidos.
Ainda que possa contar com esse bônus fiscal por mais tempo, o governo assume despesas crescentes, como o recente reajuste aos aposentados.
Neste ano, os gastos crescem tanto ou mais que as receitas. O ajuste, desde o ano passado, tem sido reduzir a parcela do Orçamento destinada ao abatimento da dívida pública.
Como o governo, o país consome mais do que poupa, em ritmo crescente. O resultado é que o deficit nas transações com o exterior retorna, neste ano, aos patamares herdados por Lula quando venceu as eleições de 2002 -e contribuíram para inspirar a expressão "herança maldita".
Consequência do crescimento econômico, o aumento do deficit externo pode ser enfrentado com controle do gasto público ou, como já foi iniciado pelo BC, com alta dos juros para esfriar o consumo e o investimento. A dose do remédio, até agora, foi pequena.


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