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FOCO
Grandes empresas investem em chances profissionais para ex-presos
SAMANTHA LIMA
DO RIO
A ressocialização de presos começa, enfim, a fazer
parte das preocupações de
grandes empresas. Petrobras
e Usiminas são algumas das
(poucas) companhias que estão investindo em novas
chances profissionais para
os chamados egressos.
A Usiminas decidiu, no
ano passado, contratar 16 ex-presos como operadores de
tratores, eletricistas e soldadores na mina de Itaúna. "Tivemos um demitido, uma
média normal. Queremos
contratar mais", diz Helena
Pessin, superintendente de
desenvolvimento humano
da siderúrgica.
Em Minas, a contratação
de ex-detentos é alvo do projeto Minas pela Paz, ação das
dez maiores indústrias contra a violência. Desde o ano
passado, o programa oferece
a eles, por meio de parcerias,
formação escolar e profissionalizante, além de estimular
a criação de vagas. Um programa do governo mineiro
cadastra os egressos interessados em trabalhar.
Em um ano, foram preparados 800 egressos e, destes,
300 foram contratados. Boa
parte foi para os canteiros da
construtora Masb, além da
Usiminas. A Fiat também deve contratar em breve.
A Petrobras patrocina, há
quatro anos, o projeto Incubadora de Empreendimentos
para Egressos, com R$ 1,6 milhão por ano. Neste ano, 200
serão selecionados para o
curso de formação de empreendedores, que ensina a
administrar um negócio.
Ex-eletricitário, o carioca
Fábio Lima fez uma única incursão no crime, que lhe rendeu um tiro e três anos de pena. Em 2007, saiu da cadeia e
foi selecionado para o curso
da Petrobras.
Durante dois anos, aprendeu a escolher fornecedores,
controlar o caixa e cuidar da
documentação e dos impostos. Enquanto isso, criou a
Art Choco, que fornece doces
para bufês de eventos. Trabalha com a mulher e emprega
dois funcionários. "Antes a
gente gastava e não via retorno. Agora, temos receita
mensal de R$ 5.000 e lucro
de R$ 2.000. Nem penso no
que passou", diz Lima.
ESCASSEZ
O Ministério da Justiça não
tem dados sobre egressos no
país, mas, em Minas, calcula-se que 6.000 pessoas deixem
a prisão por ano -apenas
2.000 buscam o cadastro do
governo para emprego.
"Isso mostra a distância do
que ainda precisa ser feito",
diz Enéas Melo, coordenador
do Minas pela Paz. Segundo
Melo, 80% dos egressos voltam para o crime. "Quem tem
oportunidade não tem recaída." Para ele, o preconceito
das empresas ainda é forte
-e injustificado.
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