São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

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Mercado reclama de politização na ANP

Ação da Petrobras subiu no início da semana com expectativa de anúncio positivo antes da eleição presidencial

Para especialista em governança, autoridade precisa ter bom senso para fazer projeções que mexam com a Bolsa

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Aconteceu mais uma vez e dessa vez a três dias do segundo turno da eleição.
Novas projeções do presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, sobre as reservas do pré-sal provocaram oscilação nos papéis da Petrobras, além de mal-estar e de críticas no mercado de capitais.
Reincidente, Lima "vazou" na tarde da quinta, em pleno funcionamento da Bolsa, a informação de que o campo de Libra poderia ter até 16 bilhões de barris -até então, sabia-se que ficava entre 6 bilhões e 12 bilhões.
Ontem, veio outra estimativa, no meio da tarde, ainda menos precisa: entre 3,7 bilhões e 15 bilhões.
O mercado oscilou ao sabor de vazamentos e de rumores ao longo da semana, a última antes da eleição.
Segundo Erick Scott, da corretora SLW, havia o rumor de que a Petrobras -e não a ANP- divulgaria uma descoberta maior do que Tupi.
As ações PN (sem voto) subiram 1,49% na segunda, 5,2% na terça e 1,31% na quarta -ontem, recuaram 1,56%. Na quinta, terminou o mistério. A Petrobras falou sobre a descoberta em Sergipe e a ANP sobre Libra.
"Pode ter tido uma confusão com a descoberta em Sergipe e com o campo de Libra. Não teve nenhuma grande novidade, mas o presidente da ANP não deveria vir durante o pregão falar de uma descoberta. A ANP deveria fazer esse comunicado depois do fechamento", disse.
Para Heloisa Bedicks, superintendente do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), as autoridades do setor público deveriam ter bom senso antes de fazer declarações sobre informações sigilosas.
"A gente assistiu neste ano a vários ruídos envolvendo estatais. Parece que as pessoas não entendem que uma determinada declaração enquanto o mercado está aberto pode provocar um rebuliço. Falta um pouco de profissionalismo e de bom senso."
Ao lado da Amec (associação dos minoritários), o IBGC vai fazer um seminário para discutir a governança do setor público, no dia 11.
Para o gestor independente Fernando Leitão, especialista em dividendos, o timing das divulgações da ANP e da Petrobras, à véspera da eleição, foi infeliz e leva a suspeitas de uso político da empresa. "Isso depõe contra nosso mercado. Cada vez que isso acontece, as ações da Petrobras ficam mais descontadas [caem]", disse Leitão.


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