São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Ciência e tecnologia garantem distribuição de renda no país

GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A comunidade científica brasileira está muito preocupada: não se debateram as metas, as estratégias e os recursos destinados ao setor no próximo governo.
A questão do desenvolvimento científico e tecnológico permanece um tema quase esotérico para a população brasileira. Os candidatos à Presidência da República -José Serra e Dilma Rousseff-, ocupados em acenar para caminhos fáceis para a melhoria socioeconômica do país, quase nada fizeram para mudar essa lamentável situação vigente.
O controle da inflação e a modesta melhora na distribuição da renda com redução da pobreza, assim como o crescimento mais rápido recente, são apresentados à população como resultados imediatos de medidas tomadas nos últimos anos.
A impressão passada aos eleitores é a de que a triplicação do salário mínimo real com menor desemprego nos últimos 15 anos foi possível simplesmente por atos de vontade de governantes sensíveis aos anseios dos trabalhadores.
As transferências realizadas pelo Bolsa Família, a reforma do sistema previdenciário rural e a Lei Orgânica da Assistência Social seriam igualmente medidas que só não foram tomadas antes por falta de sensibilidade social dos governantes anteriores. Nessa mesma toada, já se promete ampliar o número de beneficiários e acrescentar o 13º salário ao Bolsa Família.
O salário mínimo, hoje em R$ 510, seria elevado para R$ 600. É uma disputa para ver quem dá mais à população de menor renda.
Todavia, uma análise mais cuidadosa e honesta dos avanços socioeconômicos que o Brasil tem alcançado vai atribuí-los, em grande parte, ao progresso tecnológico, que atuou do lado da oferta.
Na agropecuária, a tecnologia aumentou a produção e reduziu os custos dos alimentos em especial. A produtividade duplicou desde 1975 e os preços ao consumidor caíram mais de 60% em termos reais.
Foi, então, possível controlar a inflação e fazer transferências governamentais, ampliando o consumo não só de alimentos, mas também de produtos industriais e de serviços.
Não fosse o aumento da produtividade, os aumentos do salário mínimo, por exemplo, teriam levado ao resultado a que todos estavam acostumados: inflação e desemprego, originários precisamente da alta que provocariam nos preços dos alimentos.
Isso não significa que as transferências sejam desnecessárias em vista dos progressos tecnológicos.
Pelo contrário, essas medidas são importantes porque trazem ao mercado pessoas postas à sua margem, que, de outra forma, não possuiriam o mínimo de renda necessária para se beneficiar dos ganhos da tecnologia.
Tais ganhos -não se pode esquecer- resultaram de investimentos consistentes e persistentes desde os anos 1970 e que agora precisam ser ampliados.
Isso é fundamental para que não sejam abortadas as pretensões de avançar ainda mais no combate à concentração de renda e à pobreza no Brasil.


GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.


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