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ANÁLISE AGRONEGÓCIO
Ciência e tecnologia garantem distribuição de renda no país
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A comunidade científica
brasileira está muito preocupada: não se debateram as
metas, as estratégias e os recursos destinados ao setor no
próximo governo.
A questão do desenvolvimento científico e tecnológico permanece um tema quase esotérico para a população brasileira.
Os candidatos à Presidência da República -José Serra
e Dilma Rousseff-, ocupados em acenar para caminhos fáceis para a melhoria
socioeconômica do país,
quase nada fizeram para mudar essa lamentável situação
vigente.
O controle da inflação e a
modesta melhora na distribuição da renda com redução da pobreza, assim como
o crescimento mais rápido recente, são apresentados à população como resultados
imediatos de medidas tomadas nos últimos anos.
A impressão passada aos
eleitores é a de que a triplicação do salário mínimo real
com menor desemprego nos
últimos 15 anos foi possível
simplesmente por atos de
vontade de governantes sensíveis aos anseios dos trabalhadores.
As transferências realizadas pelo Bolsa Família, a reforma do sistema previdenciário rural e a Lei Orgânica
da Assistência Social seriam
igualmente medidas que só
não foram tomadas antes por
falta de sensibilidade social
dos governantes anteriores.
Nessa mesma toada, já se
promete ampliar o número
de beneficiários e acrescentar o 13º salário ao Bolsa Família.
O salário mínimo, hoje em
R$ 510, seria elevado para
R$ 600. É uma disputa para
ver quem dá mais à população de menor renda.
Todavia, uma análise mais
cuidadosa e honesta dos
avanços socioeconômicos
que o Brasil tem alcançado
vai atribuí-los, em grande
parte, ao progresso tecnológico, que atuou do lado da
oferta.
Na agropecuária, a tecnologia aumentou a produção e
reduziu os custos dos alimentos em especial.
A produtividade duplicou
desde 1975 e os preços ao
consumidor caíram mais de
60% em termos reais.
Foi, então, possível controlar a inflação e fazer transferências governamentais,
ampliando o consumo não só
de alimentos, mas também
de produtos industriais e de
serviços.
Não fosse o aumento da
produtividade, os aumentos
do salário mínimo, por exemplo, teriam levado ao resultado a que todos estavam acostumados: inflação e desemprego, originários precisamente da alta que provocariam nos preços dos alimentos.
Isso não significa que as
transferências sejam desnecessárias em vista dos progressos tecnológicos.
Pelo contrário, essas medidas são importantes porque
trazem ao mercado pessoas
postas à sua margem, que, de
outra forma, não possuiriam
o mínimo de renda necessária para se beneficiar dos ganhos da tecnologia.
Tais ganhos -não se pode
esquecer- resultaram de investimentos consistentes e
persistentes desde os anos
1970 e que agora precisam
ser ampliados.
Isso é fundamental para
que não sejam abortadas as
pretensões de avançar ainda
mais no combate à concentração de renda e à pobreza
no Brasil.
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
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