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SOCIAIS & CIA
Cartilha prega transparência para doações
Ajuda em campanha eleitoral deve considerar adesão da empresa a propostas de candidatos, diz Instituto Ethos
Objetivo da cartilha é ajudar as empresas no relacionamento com candidatos e partidos em busca de recursos
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Empresas que procuram
incorporar a responsabilidade social em suas estratégias
de negócios devem adotar
políticas claras e transparentes em relação às doações para as campanhas eleitorais.
E a decisão de doar -ou
seja, de influenciar o processo eleitoral- deve levar em
conta o alinhamento da empresa às propostas de candidatos e partidos, não o benefício individual em caso de
vitória nas eleições.
Essas são algumas das recomendações da cartilha "A
Responsabilidade Social das
Empresas no Processo Eleitoral", edição 2010, produzida
pelo Instituto Ethos e pela
Transparency International
com o objetivo de ajudar as
empresas no relacionamento
com um público de interesse
que aparece somente a cada
dois anos: candidatos e partidos em busca de recursos para as campanhas.
Nos países em que o grosso do financiamento nas eleições vem do setor privado,
caso do Brasil, essa relação
se torna muito complexa.
Nas eleições nacionais de
2006, por exemplo, os candidatos declararam o total de
R$ 1,8 bilhão arrecadado do
setor privado, ante pouco
mais de R$ 148 milhões distribuídos naquele ano aos
partidos com os recursos do
Fundo Partidário, de origem
pública. Uma proporção que
tende a se manter nas eleições deste ano.
Outro dado relevante se refere ao peso das grandes corporações. Nas eleições de
2006 e 2008, cerca de 10%
das doações privadas (do total de R$ 4,6 bilhões) vieram
de apenas 486 empresas.
Desse grupo, as dez maiores doadoras fizeram contribuições com valores entre
R$ 6 milhões e R$ 23 milhões
cada uma. Os números indicam um alto grau de concentração no financiamento eleitoral brasileiro, sobretudo
nas eleições presidenciais.
CLAREZA
"A responsabilidade das
empresas no processo eleitoral é muito grande no Brasil.
E aquelas que se declaram
socialmente responsáveis
têm de deixar claro para a sociedade qual é a sua política
de doação, os motivos e as informações relacionadas",
defende o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew.
Uma opção que tem atraído grande número de empresas é adotar como política a
não doação de recursos.
A cartilha revela que mais
da metade (52,4%) das mil
maiores empresas do país seguiu esse caminho no ciclo
eleitoral de 2006 e 2008, representando universo de 536
companhias. O dado surpreendeu os pesquisadores.
"O que vemos ali é uma
tendência sólida de empresas decidindo adotar como
política a não doação de recursos para campanhas eleitorais", aponta Bruno Speck,
professor de ciência política
da Unicamp e um dos responsáveis pela cartilha.
Em sua opinião, independentemente de doar ou não,
o que realmente importa é
que as empresas assumam
uma posição proativa em relação ao tema. "E que façam
isso de maneira transparente, o que infelizmente nem
sempre acontece", completa.
COMO FINANCIAR COM TRANSPARÊNCIA
1 Cumprir a legislação, especificamente em relação à
transparência, e não buscar
vantagens indevidas.
2 Não apoiar partidos ou candidatos com histórico de
corrupção.
3 Definir e tornar pública a
atitude da empresa quanto
ao financiamento político.
4 Identificar vulnerabilidades do financiamento e estimular projetos de reforma.
5 Cobrar do candidato apoiado propostas claras e metas quantificadas, especialmente para políticas sociais e ambientais.
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