São Paulo sexta-feira 28 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agulhas

Um tricoteiro de mão cheia

Com suas maxilãs, Lucas Nascimento fascina os fashionistas brasileiros e estrangeiros

por Camila Yahn, em Londres

É normal que os profissionais da moda sejam reconhecidos por seu talento como estilistas, por sua beleza ou até mesmo por suas amizades com celebridades e pessoas influentes. No caso de Lucas Nascimento, o que o colocou no centro das atenções foram seus megatricôs e cachecóis vistos nos desfiles das grifes 2nd Floor e Amapô, na São Paulo Fashion Week, em janeiro. Isso mesmo. Lucas é tricoteiro. Aos 28 anos e radicado na Inglaterra, ele aposta alto na profissão, pouco reconhecida e muito menos badalada.

Em Londres, onde vive desde 2001, Lucas cursa o último período da faculdade Fashion Design for Knitwear (design em tricô), no London College of Fashion, uma das escolas de moda mais prestigiosas da Inglaterra. Quando terminar, ele planeja fazer o mestrado, a convite da diretora do colégio.

Paralelamente, ele é assistente do mestre do tricô Sid Bryan, que cria e produz peças para grifes como Alexander McQueen e Prada. Com Sid, Lucas participou da criação de roupas para Giles Deacon, Jonathan Saunders, Armand Basi e Jasper Conran, todos nomes quentes da moda britânica.

Na última edição da London Fashion Week Lucas assinou seus primeiros trabalhos solo. Fez os tricôs da marca Theatre de la Mode e a jaqueta de fitas de videocassete para o desfile da dupla Basso & Brooke. A jaqueta demorou uma semana para ficar pronta. "E isso porque trabalhei 14 horas por dia", ele conta, em seu estúdio no descolado bairro de Shoreditch.

Para fazer os megatricôs grossos vistos nos desfiles da 2nd Floor e da Amapô, Lucas usa agulhas gigantes de até 25 mm de diâmetro. A lã muito grossa, como a usada para a Ellus, chama-se Merino Wool e pode custar até R$ 500 o rolo. Portanto, suas peças são sempre muito caras. "No verão é mais fácil de vender, pois uso materiais mais leves, e as peças levam menos tecido, o que diminui o custo", diz.

O gosto de Lucas pelo tricô é quase hereditário. Desde criança, quando ainda morava em Bonito (MS), ele observava sua mãe "tricotar sem parar". Aos 11 anos, já era um minitricoteiro.

Adolescente, sabia muito bem o que queria fazer da vida e, aos 20 anos, mudou-se para Londres, a fim de aperfeiçoar seu trabalho. Passou os três primeiros anos como assistente do designer Ziad Ghanem e, de lá, foi trabalhar em um dos brechós mais disputados da cidade, o Beyond Retro.

Nessa época começou a estudar e largou o emprego. Durante o dia frequentava o colégio e, à noite, trabalhava atrás do balcão do George & Dragon, um pub pequenino e original, frequentado por stylists, artistas, modelos e estilistas famosos. Esse contato com tanta gente interessante, e a sua cabeleira negra, colocou Lucas no mapa fashion da cidade. Ele já foi um dos escolhidos para participar de um editorial da revista "Pop" que apontava as personalidades mais bacanas da moda. Apareceu na revista ao lado de Kate Moss e Raquel Zimmermann.

Aos poucos, começou a conquistar seus próprios clientes. "Estou numa posição privilegiada, em que posso desenvolver vários projetos para marcas diferentes. É fascinante como cada designer tem um processo criativo diferente do outro. Estou aprendendo muito."

Voltar a morar no Brasil, por enquanto, não faz parte de seus planos. "Estou completamente adaptado em Londres e muito feliz por poder trabalhar para marcas brasileiras mesmo vivendo fora do país", afirma.


Texto Anterior: Editorial
Próximo Texto: Mercado:No meio do furacão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.