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Desertores sírios querem ajuda externa contra Assad

Refugiados no Líbano, eles pedem armas e uma zona de exclusão aérea

Ex-militares se dizem parte do Exército Livre da Síria e comemoram recentes ataques, mas não estão organizados

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MOUANSE (LÍBANO)

Numa região remota e empobrecida do norte do Líbano, desertores do Exército sírio fazem planos ambiciosos.

Refugiados da brutalidade do regime ao qual serviam até poucos meses atrás, se dividem sobre qual deve ser o destino do ditador Bashar Assad -julgamento ou execução sumária-, mas todos concordam em um ponto.

"Se a comunidade internacional estabelecer uma zona de exclusão aérea na Síria, o regime cai em um mês", afirma Ahmed, 35, mostrando a carteira militar para comprovar a patente de ex-oficial.

Como outros desertores que fugiram para Líbano e Turquia, Ahmed se diz membro do ELS (Exército Livre da Síria), a milícia rebelde que reivindica ataques contra o regime nos últimos dias.

Após oito meses de protestos, a maioria pacíficos, os ataques empurraram a Síria para um pouco mais perto de uma guerra civil, lembrando o cenário que derrubou a ditadura líbia e levou à execução de Muammar Gaddafi.

Sentados no chão frio de uma escola abandonada de Mouanse, extremo norte do Líbano, onde vivem com suas famílias em precárias condições, Ahmed e outros desertores comemoram a recente contraofensiva. Mas ressaltam que precisam de ajuda externa para virar o jogo.

O cheiro de guerra civil ficou mais forte na semana passada, quando o ELS reivindicou uma série de ataques a bases militares.

"Fomos nós!", exclama Abu Ali, 21, que diz ter sido atirador de tanque até se negar a disparar contra civis e desertar, em setembro. "Se tivermos uma zona de exclusão aérea haverá uma deserção em massa."

Há o sentimento entre os desertores de que, com céus fechados à aviação síria, muitos militares perderão o medo e trocarão de lado.

O paralelo com a Líbia, porém, para por aí. Eles rejeitam uma intervenção militar como da Otan contra Gaddafi e exigem que a revolução fique somente em mãos sírias.

Ao mesmo tempo, admitem que a zona de exclusão aérea não é suficiente: precisam de armas para poder enfrentar a repressão de Assad.

SEM HIERARQUIA

Nas montanhas do norte libanês, de onde é possível avistar posições do Exército sírio, os desertores contam com poder de fogo irrisório, alguns poucos fuzis e RPGs, como são conhecidas as bazucas lança-granadas.

Não há hierarquia definida e os desertores desconhecem a estratégia do coronel Ryad Assad (sem relação familiar com o ditador), que diz comandar o ELS de uma base no sul da Turquia.

Segundo o ex-militar Amer, 22, os desertores enterraram suas armas antes de fugir, à espera do melhor momento para retornar. A maior parte da milícia rebelde, diz ele, continua dentro da Síria e tem cerca de 20 mil homens.

Milhares de sírios se refugiaram no Líbano. A opinião corrente entre eles é de que o número de civis mortos pelo regime supera em muito a estimativa da ONU, de 3.500.

"Os tanques destruíram as casas, a cidade está devastada", diz Mamdouh, 43, que deixou para trás seu mercado em Homs.

Mais 15 pessoas foram mortas ontem, segundo ativistas, a maioria em Homs.

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