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Egito enfrenta "a verdadeira revolução"

Manifestante diz que os protestos que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, em fevereiro, foram só um ensaio

Milhares de pessoas voltaram a ocupar a praça Tahrir, pedindo que a junta militar renuncie ao poder

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

"A verdadeira revolução começa agora", diz o médico Tarek Morsi numa enfermaria improvisada na praça Tahrir, enquanto cuida de um jovem atingido pelo gás disparado pela polícia. "Os protestos que derrubaram Hosni Mubarak foram só ensaio."

A frase do jovem médico ecoava o sentimento na praça que virou o principal símbolo da Primavera Árabe, nove meses depois dos protestos que levaram à queda do ditador egípcio.

Milhares de pessoas voltaram a ocupar ontem a praça, no quinto dia seguido de manifestações pela renúncia da junta militar que governa o país desde fevereiro.

Segundo grupos de direitos humanos, chegou a 38 o número de mortos nos confrontos dos últimos dias, numa escalada de violência que põe em risco as eleições parlamentares marcadas para começar na segunda-feira.

A névoa de gás lacrimogêneo não inibiu os manifestantes, que enfrentaram a polícia em repúdio às promessas feitas na véspera pelo marechal Mohamed Hussein Tantawi, líder da junta militar.

Num pronunciamento transmitido pela TV, Tantawi prometeu a realização de eleições presidenciais até junho de 2012, na primeira vez em que uma data para a transição foi apresentada.

Para os manifestantes que voltaram à Tahrir, porém, Tantawi, que foi ministro da Defesa de Mubarak por 20 anos, é sinônimo do antigo regime, e a renúncia da junta militar deve ser imediata.

"Cansamos de promessas", disse o guia turístico Tony, 22, sem negar que produza bombas incendiárias para enfrentar a polícia. "Se eles usam a força contra nós, que alternativa temos? Ficaremos aqui o tempo que for necessário."

Uma breve trégua com a polícia negociada por líderes religiosos teve vida curta ontem, e logo a praça Tahrir voltou a ser tomada pelo gás.

O foco dos novos confrontos passou a ser a rua que leva à sede do Ministério do Interior, a poucos metros da praça, que os manifestantes escolheram como alvo de sua fúria, por comandar os serviços de repressão.

Policiais dispararam gás e balas de borracha, instalando o caos em meio ao incessante movimento de ambulâncias em disparada levando manifestantes feridos.

O Exército negou que tenha disparado contra os manifestantes, o que as evidências contrariavam. "Levei um tiro de borracha na testa, um jovem do meu lado perdeu o olho", disse Mohamed, 23, com uma máscara antigás.

IRMANDADE

Considerada a principal força política do país, a Irmandade Muçulmana orientou seus seguidores a não participar dos confrontos, temendo comprometer suas chances de conquistar uma bancada majoritária nas eleições parlamentares.

Partidos religiosos como o recém-formado Justiça e Liberdade, da Irmandade Muçulmana, atenderam ao chamado para uma reunião com a cúpula militar, que foi boicotada por grupos liberais.

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