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Análise Egito

Vestígios da era Hosni Mubarak sufocam renascimento egípcio

Não emergiu no país líder que canalize insatisfação das ruas; Forças Armadas e Irmandade estão despreparadas

ANTHONY SHADID
DO “NEW YORK TIMES”

Se as manifestações iniciadas em fevereiro eram um levante contra o regime do então ditador egípcio Hosni Mubarak, a revolta atual é contra seu legado.

Os vestígios da ordem de Mubarak -as Forças Armadas, a Irmandade Muçulmana e outros islâmicos, ou os progressistas e liberais fragmentados- parecem mal preparados para a transição.

A estratégia que, por tanto tempo, reprimiu com sucesso a ira do público e solapou a vontade de rebelião do povo deixou de funcionar. Como resultado, não está claro que caminho o Egito encontrará para progredir.

As autoridades esperavam que os manifestantes se exaurissem e fossem para casa, mas isso não ocorreu. As Forças Armadas tentaram usar a violência, mas não funcionou. Tentaram concessões limitadas; não funcionou.

As Forças Armadas parecem ignorar a escala dos protestos, e os partidos islâmicos buscam com teimosa persistência os seus objetivos políticos, prevendo um desempenho saudável na próxima eleição. Não emergiu líder algum, seja lá qual a sua inclinação ideológica, para canalizar o descontentamento que uma vez mais toma as ruas.

"Hoje temos um fracasso da classe política", disse Ibrahim el-Houdaiby, analista político centro de pesquisa Dar al-Hikma, no Cairo. "As pessoas se sentem traídas."

Para muita gente na praça, os políticos ou estão colocando seus interesses mesquinhos em primeiro lugar ou se provam incapazes de concretizar uma visão que poderia conter a crise.

"Continuamos a enfrentar o sistema de Mubarak", disse Mustafa Togbi, 56, funcionário público. "Todos se formaram na escola dele."

É perceptível que as eleições não parecem ter papel importante nas conversas dos manifestantes. Elas acontecerão na próxima segunda-feira, mas não havia pessoa alguma debatendo as plataformas, candidatos ou partidos.

No entanto, as eleições parecem cruciais para a Irmandade Muçulmana e os demais islâmicos, que podem, com elas, garantir o maior poder eleitoral que já detiveram na história egípcia.

Até agora, a Irmandade vem, na prática, se alinhando com os militares, formando uma aliança entre duas das mais veneráveis instituições egípcias. Ainda que esteja tentando proteger sua situação dos dois lados, a Irmandade esteve em larga medida ausente da praça Tahrir, insistindo em que a maioria não apoia os protestos.

Analistas sugerem que as ruas lotadas de descontentes podem se tornar uma situação permanente, enquanto os políticos debatem a lei islâmica em lugar de preocupações populares como segurança, economia e corrupção. E as Forças Armadas se mantêm aferradas a uma narrativa cada vez menos aceita pela população: a de que eles salvaram a revolução.

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