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Análise

Batalha retórica cria névoa perigosa sobre a realidade

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

As potências ocidentais e o Irã travam uma batalha de propaganda que dificulta uma avaliação sóbria das verdadeiras intenções mútuas.

A retórica causa confusão informativa, como ver sinal de perigo no anúncio iraniano de que produziu varetas de combustível nuclear, usadas em reatores civis.

Interessa a governantes como Barack Obama e Nicolas Sarkozy exagerar a capacidade militar de Teerã e sua suposta propensão a usá-la de modo irracional (acusação ridicularizada por ninguém menos que Meir Dagan, chefe do Mossad israelense até meados de 2011).

Ambos enfrentam eleições neste ano e têm na agressividade da política externa trunfos raros (o assassinato de Osama bin Laden, a queda de Muammar Gaddafi).

Em vez de levar o Irã a parar o projeto nuclear -tática que fracassou nos últimos anos-, o aperto das sanções visaria enfraquecer o regime. Desse modo, se não for derrubado, que ao menos não saia vitorioso da instabilidade vivida por aliados ocidentais em sua vizinhança (Egito, Bahrein, Iraque).

A hipótese de que seja esse o objetivo ocidental é reforçada pela constatação de que já há uma guerra secreta contra o Irã em curso -como indicam os aviões espiões, os atentados a cientistas e a sabotagem cibernética às instalações atômicas.

A Teerã, por outro lado, também interessa exagerar o próprio poderio e deixar no ar se pretende ou não chegar a fazer a bomba.

O país faz ameaças que não cumprirá de fechar agora a saída do golfo Pérsico, testa mísseis de curto alcance como se fossem mais potentes e dá declarações conflitantes sobre sua disposição de retomar o diálogo nuclear.

Mostrando-se forte, considera que evitará um ataque frontal. Ao mesmo tempo, esconde o impacto das sanções e ganha com o aumento do preço do petróleo decorrente do clima de confrontação.

O cenário lembra o de antes da invasão do Iraque, quando Saddam Hussein dava asas à falsa acusação de que tinha armas proibidas.

Claro que os dois lados sabem que o Irã é mais populoso, mais poderoso e com maior sentido de nacionalidade do que o Iraque. Sabem que uma guerra aberta poderia ter reflexos catastróficos na região e no mundo.

Mas, diante da escalada de belicosidade, é possível que um incidente não intencional entre as forças inimigas no golfo Pérsico redunde em conflito de grande proporção.

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