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Com crise econômica na Grécia, famílias pedem socorro a ONGs

Casais e mães solteiras buscam alimento para filhos e ajuda para aluguel

SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL A ATENAS

Aos 40 anos, a grega V. tem seis filhos e dois netos. Eles são filhos da sua mais velha, solteira como a mãe.

Sem emprego há dois anos por causa da crise econômica que assola a Grécia há pelo menos o dobro desse tempo, V. procurou uma ONG para conseguir alimentar as oito vidas que dependem dela e com as quais divide um cômodo em Atenas.

Há cerca de 500 casos semelhantes a esse atendidos pela ONG SOS Children's Village na Grécia.

São casais ou mães solteiras -recentemente desempregados- que procuram ajuda para pagar o aluguel e comprar material escolar, comida, roupas e remédios.

"Esse tipo de demanda não existia há dois anos. Antes, só atendíamos crianças retiradas da guarda dos pais por maus-tratos", conta Stergios Sifnios, diretor de trabalho social da SOS.

A crise que assola o país -e que elevou a taxa de desemprego de 8%, em 2007, para cerca de 18% atualmente- afeta mais quem tem menos dinheiro e mais filhos.

Para conter gastos, as empresas cortam os trabalhadores com menos qualificação.

Segundo a SOS, os casos de abandono de crianças pelos pais não aumentaram na crise. "Os pais que não conseguem manter os filhos pedem ajuda", diz Sifnios.

Mas os relatos de maus-tratos têm sido mais frequentes. Esses casos costumam estar associados ao uso de álcool e de drogas -que cresce com o desemprego- e a problemas psiquiátricos dos pais.

"As instituições privadas e públicas que cuidam de crianças violentadas estão lotadas", diz Yannopoulos Costas, fundador e presidente da ONG The Smile of the Child.

Hoje, essa instituição abriga 280 crianças em lares pela Grécia. Nos últimos três anos, teve de recusar mais de mil crianças por falta de condições para abrigá-las.

Enquanto falava pessoalmente com a Folha em um prédio na zona sul de Atenas onde vivem 25 jovens abrigados, Costas recusava, pelo celular, mais uma criança.

Nesse caso, ela foi vítima de abandono. Era uma menina de quatro anos que fora deixada em um hospital no centro de Atenas pelo pai, que é do Sudão e disse que não voltaria para buscá-la.

De acordo com Costas, parte dos abrigos públicos fechou as portas nos últimos dois anos porque o governo está sem dinheiro. Em dezembro, a The Smile of the Child gastou € 1,5 milhão para manter as 280 crianças que abriga e as outras 18 mil que recebem apoio da ONG.

"Apesar da crise, ainda recebemos muitas doações. A Grécia está se unindo para ajudar quem precisa", diz Costas. "Mas nenhum grego acredita na melhora da economia."

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