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Boom econômico faz Brasil virar rota de tráfico de imigrantes

CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO

A cena se passa na fronteira do Acre com o Peru. Um grupo de dez haitianos, incluindo mulheres e uma criança, tenta cruzar a fronteira brasileira. São barrados pela Polícia Federal.

- "Vocês têm visto para entrar no Brasil?" - pergunta um policial.

- "Estamos pedindo refúgio. Não temos nada. Não temos para onde ir." - diz um dos haitianos.

- "E como é que tiveram dinheiro para vir para cá?"

- "Gastamos tudo o que tínhamos para chegar aqui."

"Tudo" são cerca de US$ 300 (cerca de R$ 600) pagos a coiotes na saída do Haiti -país mais pobre das Américas, onde 80% vivem com menos de US$ 1 por dia.

O episódio foi filmado por uma equipe de TV local, na semana passada. Dos 6.000 haitianos abrigados no país, 200 estão ali no Acre.

Por trás do aumento do fluxo de haitianos para o Brasil, está um esquema de contrabando de migrantes que cresceu exponencialmente nos últimos dois anos.

"É um crime sofisticado, que produz lucros enormes. Os atravessadores usam documentos falsos e passaportes forjados", diz Juan Artola, diretor da OIM (Organização Internacional para Migrações) para as Américas.

Segundo ele, o crime também é consequência do bom momento econômico brasileiro. E se insere no contexto de crise econômica e fiscalização acirrada nas fronteiras dos Estados Unidos -destino tradicional de migração latino-americana.

"Crimes associados à migração, como o tráfico de pessoas e o contrabando de migrantes, estão crescendo na América Latina. E devem crescer mais na região, porque o mercado precisa de mão de obra e existe a tendência de importar este trabalho barato em condições precárias", explicou Artola.

Dentro do Brasil, a irregularidade persiste e muitos imigrantes acabam sujeitos a outras redes de exploração, como o trabalho escravo.

"Com o boom da construção civil, o Brasil tem que aumentar a atenção às fronteiras e o combate ao trabalho escravo em áreas urbanas", diz Luiz Machado, coordenador de combate ao trabalho escravo da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

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