Juros portugueses disparam, e mercado aposta em calote

Temores de que a instabilidade financeira possa levar Portugal a um novo pacote de resgate ou mesmo ao calote cresceram ontem, quando os juros dos títulos da dívida portuguesa atingiram recordes na história do euro.

Os juros dos papéis portugueses com prazo de dez anos chegaram a ultrapassar os 17% -o dobro do nível considerado sustentável e próximo aos patamares registrados pela Grécia às vésperas de ter sido resgatada.

Enquanto isso, fontes do mercado citadas pelo "Financial Times" apostam que é de mais de 70% a chance de que Portugal entre em calote dentro dos próximos cinco anos, levando ontem a um nível recorde de operações de trocas de títulos portugueses.

Juros altos significam um aumento nos custos de empréstimos e indicam desconfiança por parte do mercado de que o país tenha capacidade de cumprir seus compromissos financeiros.

Analistas dizem que o mercado financeiro está de olho no avanço das conversas entre os credores privados gregos e o governo em Atenas sobre a reestruturação da dívida grega como um possível modelo para futuras negociações com Portugal.

Em meados deste mês, a agência de classificação de risco Standard & Poor's classificou a Grécia como de alto risco de investimento ("junk", no jargão em inglês).

Especialistas avaliam que as reações atuais ainda fazem parte de uma acomodação após o rebaixamento português, mas que há também uma "preocupação generalizada" por parte do mercado de que Portugal precisará de um novo pacote de resgate da União Europeia, ainda segundo o "FT".

Somando incerteza ao cenário, o Banco Central Europeu reduziu as compras de títulos da dívida pública da zona do euro de € 2,24 bilhões na semana retrasada para € 63 milhões na semana que passou.