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Torcedores levantam suspeita de ação orquestrada

MARTIN CHULOV
DO “GUARDIAN”

Mohamed Hamouda estava comemorando o terceiro gol de seu time, o Al Masry, de Port Said, quando um policial postado próximo ao gramado chamou a sua atenção.

"Ele disse aos torcedores que invadissem o campo", afirmou o egípcio depois do episódio mais violento da história do futebol no país -a briga entre as torcidas do Al Masry e do Al Ahly, do Cairo, na quarta, que resultou em 74 mortos e centenas de feridos.

Com o braço ferido por, segundo ele, ter tentado defender torcedores da equipe do Cairo, Hamouda apontou várias anormalidades nos acontecimentos após o jogo, que reacenderam os protestos no país -já instável politicamente desde a revolta que derrubou Hosni Mubarak.

"Quando a partida acabou, os torcedores correram para dentro do campo e, logo depois, as luzes se apagaram. Ninguém sabia quem estava com quem. Eu vi pessoas empurrando torcedores do Al Ahly das arquibancadas."

"As portas de saída também foram fechadas por alguém, de propósito", prosseguiu o torcedor. "Vi gente armada com facas -não faço ideia de quem eles fossem. Não eram de Port Said."

Horrorizada pela tragédia, a opinião pública egípcia questiona se ela foi resultado da ação de torcedores "hooligans" e da inação da polícia -que, aparentemente, não fez nada para conter a violência- ou se a confusão foi armada por agitadores infiltrados, pagos pelo Estado.

Sabe-se que pelo menos dois grupos radicais de torcedores, os "ultras", sentaram-se no meio das torcidas rivais. Durante as revoltas políticas no Egito ao longo de 2011, houve frequentes choques entre os "ultras" e a polícia.

Testemunhas disseram ao "Guardian", porém, que não se tratou só de violência futebolística. Segundo Hamouda, os torcedores do Al Masry foram surpreendidos por "ônibus que vieram de fora da cidade, com gente usando as camisas dos 'ultras'".

Salah el Masry, que participou dos protestos contra o regime de Mubarak e também assistiu à partida, corrobora o relato. "Não foi gente de Port Said que fez isso. Eu vi um garoto pular da arquibancada, de puro medo. Ele caiu sobre o teto da mesquita vizinha e quebrou a perna."

El Masry disse não entender "como cinco portões [para o gramado] puderam ser abertos assim que o juiz apitou o fim do jogo". Mohamed Saleh, supervisor de segurança do Al Masry, também disse ter visto "estranhos" em meio à multidão em campo.

Tradução de ROGÉRIO ORTEGA

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