Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Correa aperta cerco à mídia equatoriana

Emilio Palacio, do jornal "El Universo", foi condenado a 3 anos de prisão e pediu asilo nos Estados Unidos

Lei de comunicação que está no Congresso limita propriedade privada a 33% do total de veículos no país

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A ratificação da condenação de três diretores e um editor do jornal "El Universo" pela Justiça equatoriana, na última semana, assinala uma nova etapa dos ataques do presidente Rafael Correa à imprensa de seu país.

"A situação está muito mais grave no Equador. Há uma campanha agressiva do governo contra a liberdade de expressão", disse à Folha o diretor da Sociedade Interamericana de Imprensa, Ricardo Trotti.

Desde que iniciou sua gestão, em 2007, o presidente Correa deu início a um processo de expropriação de canais de TV e rádio, uso discriminatório de verba para publicidade oficial e condenação judicial por injúria de jornalistas que criticam o governo. Já são 21 os meios governistas, que se dedicam a propagandear ações de Correa.

Nas últimas semanas, dois casos ganharam relevância. Os jornalistas Juan Carlos Calderón e Cristian Zurita foram condenados em primeira instância a pagar multa de US$ 2 milhões por conta da publicação de "El Gran Hermano", livro em que denunciam casos de corrupção vinculados ao irmão de Correa.

A causa contra o jornal "El Universo" ganhou repercussão internacional.

O diário foi condenado por injúria devido a uma coluna do editor de opinião, Emilio Palacio, que chamava Correa de ditador e questionava sua atuação durante uma revolta policial. A pena é de três anos de prisão e pagamento de multa de US$ 40 milhões.

Palacio pediu asilo político nos EUA e dois dos irmãos proprietários da empresa estão no exterior. O terceiro pediu asilo ao Panamá.

"Está piorando o cerco. As nossas ações estão cada vez mais limitadas. O governo fecha as fontes e cria novos meios para fazer propaganda todos os dias. Mas não vamos desistir", disse à Folha o editor-geral do "El Universo", Gustavo Cortez.

Outro caso exemplar é o do jornalista Wilson Cabrera, dono e locutor da rádio La Voz de la Esmeralda, da cidade de Macas. Em abril do ano passado, sua rádio foi tirada do ar pela polícia e até seus cabos e antenas foram arrancados. Cabrera é acusado de transmitir sem autorização.

"Não é verdade, me tiraram a rádio porque eu noticiava casos de corrupção locais. Esse governo, em vez de investigar as denúncias, vai contra os jornalistas", diz Cabrera, que há três meses tenta sair do país para levar seu caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

"Esses casos são sérios e muito chamativos, mas há algo ainda mais perigoso. A lei eleitoral e a de comunicação. Se ambas forem aplicadas, não será mais possível fazer jornalismo lá", diz Trotti.

A lei eleitoral, aprovada em 4 de fevereiro, impede os meios de fazerem matérias apontando aspectos negativos ou denúncias a candidatos às eleições de 2013.

Já a lei de comunicação está no Congresso e, se aprovada, determinará que apenas 33% dos meios poderão ser privados. "Na prática, significa que serão 66% do Estado, porque a cota das minorias é controlada por Correa", afirma Trotti.

O presidente justifica suas ações dizendo que, assim como qualquer cidadão, tem direito a ir à Justiça quando se sente injuriado.

Por meio de sua conta de Twitter, anteontem, Correa disse que estava formando um grupo de "ofendidos e perseguidos pela imprensa" para unidos se defenderem "da imprensa corrupta".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.